domingo, 23 de dezembro de 2012

Para variar, hoje não há poesia mas um Conto

A aldeia de Cisnéros, situa-se algures aí para o Alentejo! Se calhar, até nem existe em lugar nenhum, mas isso pouco importa, o que conta é a história que se segue.
Esta aldeia era um lugar pacato, habitado por gente humilde, que ganhava a vida nos trabalhos do campo. Aqui, o som mais alto que se ouvia era apenas o badalar do sino a anunciar as horas. Até que um dia apareceu um maltês de sacola às costas, dirigiu-se à taberna, pediu um quarto de pão meio queijo e um copo de vinho. Sentou-se, comeu e bebeu e ali ficou a tarde inteira, sempre calado, como um Zé-ninguém, sem eira nem beira.
A filha do taberneiro veio ter com o pai a pedir ajuda para fazer os trabalhos da escola, mas este não sabia ajudá-la. O maltês chamou a menina e ajudou-a, dando-lhe uma verdadeira lição. A menina ficou agradecida, perguntando-lhe se no dia seguinte a poderia ajudar outra vez. O maltês disse que sim.
Ao pôr-do-sol, o maltês desapareceu e só voltou a aparecer no outro dia à mesma hora. Dirigiu-se à taberna e disse que tinha fome. O taberneiro foi à cozinha, trouxe um prato de comida e perguntou-lhe o nome. O maltês disse chamar-se Zé Maria, comeu, agradeceu e saiu. Foi sentar-se à sombra do portal da igreja. Quando chegou o autocarro com a criançada da escola, o Zé Maria foi para a taberna, onde a menina já estava à sua espera com um grupo de amigas.
Foi assim que a partir daquele momento a taberna do Ti Chico da Esquina passou a ser centro de estudos onde os miúdos e graúdos aprendiam a ler e a escrever e, quando as explicações terminavam, o Ti Chico da Esquina, com aquele seu ar bonacheirão não cabia em si de contentamento pelo rumo que as coisas estavam a tomar.
Zé Maria passou a ser admirado por todos. Retribuía com muita simpatia, ajudando a tratar dos quintais, a arrumar armazéns, e ele fazia tudo o que fosso necessário e fazia-o com uma abnegação tal que parecia redimir-se de algo...
Zé Maria notava que à missa só assistia meia dúzia de idosas, Falou com o padre, organizou e ensaiou um coro que passou a dirigir assistindo ao acto litúrgico dos Domingos com a igreja sempre cheia.
Pelo seu comportamento o Zé Maria foi aceito por toda a comunidade. Mas... a população intrigada interrogava-se sobre quem seria o Zé Maria e o que lhe teria acontecido na vida?
Um mistério!

Henrique Mateus

sábado, 15 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Viriato Horta

Uma Vida Atribulada

Por imperativo da vida
Morei em muitos lugares,
Uns melhores, outros piores
Conheci imensos lares.

Nasci lá pelos Algarves,
Mas pouco tempo lá estive,
Passando por outras terras,
No Alentejo me contive.

Mesmo naquela Província,
Vivi em quatro concelhos;
Estudei em duas escolas,
Conheci novos e velhos.

Já na minha adolescência,
Voltei de novo à origem;
Comecei a trabalhar,
Que as necessidades exigem.

Ali fiz tudo, até tropa,
Vivendo em várias cidades;
Cumprindo um ciclo de vida
Até à maioridade.

Já com os vinte passados,
A Setúbal vim parar,
Pensando ser de passagem,
Acabei por cá ficar.

Com saídas e regressos
Em serviços profissionais,
Também corri seca e Meca
Para me valorizar mais.

Felizmente consegui
Sempre melhorar de vida,
E mesmo sem actividade
Gozo a reforma merecida.

Conheci e fiz amigos
Nestas décadas passadas,
E sou um homem feliz,
Com as pessoas amadas.

Em O Canto dos Poetas