sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Manuel Luis de Jesus Beja

Quadras à liberdade

Minha mãe p'ra me embalar,
Falava de liberdade.
Sou feliz ao recordar!
Recordo cheio de saudade!

Liberdade é como a paz!
Me dizia, meu amor,
Ao ver a falta que faz,
É que lhe damos valor.

Faz tudo p'rá não perder!
Liberdade é tua espada!
Antes lutar e morrer,
Do que sofrer pela calada.

Também se luta a cantar,
Não se canta só às flores!
Cantaram para lutar,
Muitos plebeus e doutores!

Meu filho não vás esquecer,
Este nobre ensinamento!
E quando um dia eu morrer,
Lança as sementes ao vento!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Martinha Marques Fernandes Fatia

Criar

Criar é um sentido diferente
Que nos sai das entranhas
É ver beleza nas formas mais estranhas
De uma pedra fazer uma estrela cadente

É amar a natureza, a luz, o sol poente
Sentirmo-nos até alta montanha
Com o seu fascínio a sua força estranha
É saber descrever este sentir a toda a gente

É imaginar que temos imaginação
Para fazermos da vida
A nossa obra e criação

É pormos em tudo o que fazemos
Beleza carinho e verdade
Muito amor e emoção

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Canção de maltês
 
Bati à porta do monte
porque sou um deserdado.
E chovia nessa noite
como se o céu fosse um mar
entornando-se na terra.
- Quem abre a porta a desoras
morando num descampado?
E continha o rafeiro que ladrava,
na ponta do meu cajado.
Mas veio abri-la o lavrador
com a espingarda na mão,
e pôs um olhar altivo
tão no fundo dos meus olhos
que as minhas primeiras falas
foram assim naturais:
- guarde a espingarda, senhor,
sou um homem sem trabalho.
Fui secar-me à lareira.
E a filha do lavrador,
que era uma moça perfeita,
ficou a olhar de gosto
a minha manta rasgada
e o meu fato de maltês.
E com licença do pai,
estendeu-me um canto de pão
com azeitonas maduras.
Não aceitei como esmola;
antes roubar que pedir;
paguei com a melhor história
da minha vida sem rumo.
Foi uma paga de rei.
Prá filha do lavrador
tinha muito mais valia
a história que lhe contei
que o trigo do seu celeiro,
pois estava a olhar de gosto
a minha manta rasgada.
E quando o fogo na lareira
ia aos poucos esmorecendo
agradeci como é de uso;
despedi-me até mais ver
e fui dormir pró palheiro
que é palácio de maltês.
Despedi-me até mais ver
que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer
ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Assim me deitei ao canto
a esperar pela manhã.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Tejo que levas as águas


Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 



Lava-a de crimes espantos 

de roubos, fomes, terrores, 

lava a cidade de quantos 

do ódio fingem amores 



Leva nas águas as grades 

de aço e silêncio forjadas 

deixa soltar-se a verdade 

das bocas amordaçadas 



Lava bancos e empresas 

dos comedores de dinheiro 

que dos salários de tristeza 

arrecadam lucro inteiro 



Lava palácios vivendas 

casebres bairros da lata 

leva negócios e rendas 

que a uns farta e a outros mata 



Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 



Lava avenidas de vícios 

vielas de amores venais 

lava albergues e hospícios 

cadeias e hospitais 



Afoga empenhos favores 

vãs glórias, ocas palmas 

leva o poder dos senhores 

que compram corpos e almas 



Leva nas águas as grades 
... 



Das camas de amor comprado 

desata abraços de lodo 

rostos corpos destroçados 

lava-os com sal e iodo

Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar. 






quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Tu e Eu Meu Amor 

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos!

Dona Abastança «A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"
Para o actual governo - Passos Coelho/Portas - os trabalhadores e os pensionista são o INIMIGO!

Vitor Moinhos

As histórias da Marta

À volta de uma lareira
Marta com o seu encanto
Canta-nos à sua maneira
Histórias em forma de canto.

Coisas belas de pasmar
Umas alegres, outras não
De homens que morrem a lutar
Pela verdade e pela razão.

De homens que não regressam
Da batalha, contra a guerra,
Culatras que nos arremessam
À luta pela paz na terra.

Não te vás agora Marta
A noite ainda é uma criança,
És para nós como uma carta
Que nos traz um pouco de esperança.

Gosto de sentir a tua voz
Contando histórias de heróis
Que um dia morreram por nós
E que hoje são nossos faróis.