terça-feira, 29 de junho de 2010

Maria José Branco de Assunção



Só canto a ti Alcochete

Eu só canto à minha terra
À sua história imortal
Minh'Alcochete velhinha
Tu foste berço real

Dom Manuel, aqui nasceu
Rei que foi o "venturoso"
Tu em beleza, és rica
Teu passado glorioso

Teus monumentos sagrados
Revelam tanta nobreza
És um mimoso cantinho
Tens alma, bem portuguesa

El-Rei Dom Manuel Primeiro
Desta Alcochete velhinha
Recorda ao mundo inteiro
Qu'és terra mãe e rainha.
Teu passado glorioso

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Maria José Branco de Assunção

Alcochete terra linda

Alcochete terra linda
Sobre o Tejo debruçada
A sua beleza infinda
Merece bem ser cantada

É beijada pelo Tejo
E tem campos verdejantes
Noutro tempo teve ensejo
Ser terra de navegantes

Aqui vinham caravelas
à volta das descobertas
E a maruja vinha nelas
Pagar ao santo as ofertas

Hoje os homens outros são
Mas o sangue o mesmo vale
Uns trabalham no carvão
Outros trabalham, no sal

Descalços de pé e perna
Junto às águas cristalinas
Assim dão a vida inteira
à riqueza das salinas

Gente do campo e do mar
Cada qual tem seu valor
Mas são iguais a lutar
Mareante ou lavrador

Não sabem causar um dano
Seja embora desgraçado
Porque ser alcochetano
É ser bom, é ser honrado

Alcochete, minha terra
Tem brasão e galhardete
Seja na paz ou na guerra
Honro-me em ser de Alcochete

(poema escrito em 1940)

Maria José, nasceu em Alcochete em 1920. Foi funcionária administrativa do Registo Civil em Alcochete e Lisboa. A sua terra natal é um permanente motivo de inspiração.

domingo, 20 de junho de 2010

Augusto António Bico

Você lamenta eu lamento
Qual de nós tem mais razão
Você gastou sem proveito
Eu perdi dinheiro e patrão

Você grita e com certeza
Que tem razão para gritar
Gastou tornou a gastar
E perdeu toda a despesa
Mas falando com franqueza
Os engenheiros de talento
Têm tido desmoronamento
Em obras de tal qualidade
Por causa da profundidade
Você lamenta eu lamento

Não podia adivinhar
Se o terreno era firme
É um estudo sublime
Onde não posso chegar
Aprendi a trabalhar
Trabalho com precisão
É de onde me vem o pão
Com que sustento os meus filhos
Mas vim de lá sem cadilhos
Qual de nós tem mais razão

O Sr Tavares com certeza
Que já tem perdido mais
Como tem muitos cabedais
Não diminui a riqueza
Essa grande despesa
Que diz fazer por meu respeito
Quando há qualquer desfeito
Recai sempre sobre o pequeno
Por causa do seu terreno
Você gastou sem proveito

Quem ficou pior fui eu
Fui o mais prejudicado
Vim com o corpo bem ralado
Sem um real de meu
Tudo ali me escarneceu
Até o mais rude ganhão
A minha aptidão
Só ali ficou perdida
E se não perdi a vida
Perdi dinheiro e patrão

Augusto Bico, natural de Alcácer do Sal, nasceu em 1856 e faleceu em 1934, sendo carpinteiro de profissão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

João Falé Baião


O meu cantar é falando
Só falando sei cantar
A minha voz desafina
Não a posso controlar

Gosto de ouvir cantar bem
Quando a sua voz ajuda
E quando o som se não muda
No peito de quem o tem
Ouço porém cantar alguém
P'ra sua mágoa ir espalhando
Dizem muita poisa cantando
E tudo lhe fica bonito
Por isso digo e repito
O meu cantar é falando

Quando a voz não nos ajuda
Ninguém pode cantar bem
O dom é de quem o tem
Senão logo a coisa muda
Todo aquele que canta e estuda
Também tem que bem pensar
Para fundamento arranjar
Na sua bonita canção
É só esta a razão
Que eu só falando sei cantar

O fundamento no cante
Tem muito que se lhe diga
Cantar bem uma cantiga
Não é para toda a gente
O prazer é de quem sente
Mesmo ao som da concertina
A sua frase se aproxima
Aí define o seu saber
Isso não posso eu fazer
Que a minha voz desafina

Mesmo que queira ser bom
Quando a voz não é brilhante
Logo mostra a toda a gente
Que nada vale o seu som
Destravia o acordeom
E nada pode rimar
Nunca poderá acabar
Tem a voz sempre no fim
Assim me acontece a mim
Não a posso controlar

O João Falé Baião nasceu em 1920 em São Marcos do Campo/Reguengos de Monsaraz, tendo estabalecido residência no Escoural. Não frequentou a escola, aprendeu a ler e a escrever com familiares seus. A sua profissão sempre foi trabalhador rural. Faz décimas desde os 15 anos.


terça-feira, 15 de junho de 2010

José Augusto Ferrão

Nota prévia: Quando criei o rimapontocom, em 19/10/09, utilizei o mote deste poema, por o considerar lapidar de uma filosofia de vida. JAF expressa nele uma sabedoria respeitável. Por essa razão é hoje o seu poema inserido aqui integralmente.

Diz-me agora aqui burguês
Quem é que tanto te deu
Quando tu vieste ao mundo
Vieste nu como eu

Caíste entre almofadinhas
Nasceste como um tesouro
Teus pais deram-te um berço de oiro
E boas roupas quentinhas
Eu tive humildes palhinhas
A minha sorte talvez
Eu não vi uma só vez
Como tu tanta riqueza
De onde veio a tua nobreza
Diz-me agora aqui burguês

Tantas herdades florindo
Logo ao nascer tu tiveste
Mas do sítio de onde vieste
Elas não podiam ter vindo
Embora dinheiro possuindo
Tua mãe ao ter-te sofreu
Mas a minha mais padeceu
Que a miséria traz sofrimento
Mas se és rico avarento
Quem é que tanto te deu

Esse tesouro afamado
Quando ao mundo chegaste
Já juntinho encontraste
Pelo teu pai arranjado
Mas lembra-te que foi roubado
A quem com esforço profundo
Cavava a terra sem fundo
E lamentava o seu mal
O teu pai veio tal e qual
Como tu vieste ao mundo

És rico e vives contente
A ti não te falta nada
Tens uma casa recheada
Devias ser indulgente
Repartires com toda a gente
Que o que tens lá não é teu
É de quem o celeiro encheu
Regando a terra com suor
Enquanto tu explorador
Vieste nu como eu

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Horácio da Silva Parreira

Já dormi na tua cama
Já o teu rosto beijei
Já ganhei os teus carinhos
E outras coisas que eu cá sei

Foi chorando que nasci
Tinha um ano e gatinhava
Tinha dois eu já andava
E tinha três adoeci
Não sei como eu não morri
Se ainda era de mama
Aos quatro já tinha dama
E aos cinco estou bem lembrado
Mesmo sem ter abanado
Já dormi na tua cama

Aos seis anos ia à missa
Pela mão da minha mãe
Aos sete lembra-me bem
Que tu eras minha derriça
Metias muita cobiça
Quando os oito completei
Pois aos nove eu ateimei
Que te havia de namorar
Aos dez me posso gabar
Já o teu rosto beijei

Quando os onze anos fiz
Já sabia o que era amores
E alguns sérios calores
Que me faziam feliz
Pois aos treze eu então quis
Que nós fossemos amiguinhos
Aos catorze alguns beijinhos
E foi isso à boa mente
Pois aos quinze verdadeiramente
Já logrei os teus carinhos

Quando dezasseis anos tinha
Te disse mais uma vez
E aos dezassete talvez
Que viesses a ser minha
Aos dezoito cá me entretinha
Com outros amores que arranjei
Aos dezanove me voltei
A dar-te toda a atenção
E aos vinte apertei-te a mão
E outras coisas que eu cá sei

O Horácio Parreira nasceu, no Escoural e aqui sempre residiu, em 1915. Trabalhador rural de profissão, não sabia ler nem escrever.

domingo, 13 de junho de 2010

Esmeraldina Pinto

Quadras dedicadas ao crime de Vale de Nobre

A província alentejana
Vive em grande conflito
A Guarda Republicana
Causou um grande delito

É um jovem camarada
E outro de mais idade
que mataram à rajada
No lugar de certa herdade

Eram homens muito honrados
Que ganhavam o seu pão
Que foram martirizados
E mataram à traição

Mataram os desgraçados
Sem motivo nem razão
Jamais serão perdoados
Pelo povo da nação

Foi coisa premeditada
É o que toda a gente diz
A cena mais revoltada
Que se deu neste país

Viam-se braços no ar
E gritos de aflição
Via-se o povo a chorar
Que cortava o coração

Quando os amigos correram
Para salvar seus camaradas
Viram logo que morreram
No meio de tantas rajadas

Gritaram desesperados
Sem saber o que fazer
Pois foram ameaçados
Que também iam morrer

Exigimos o castigo
A esses grandes malvados
Mataram nossos amigos
No trabalho fatigados

O latifundiário sorridente
Viu-se na televisão
Parecendo estar contente
Ao ver a nossa aflição

Onde estão os cravos de Abril
Onde está a liberdade
Assassinos há muitos mil
Sem responsabilidade

Mas desta vez são punidos
Isso posso afiançar
O povo está bem unido
Os braços não vai cruzar

Assim a luta continua
Doa lá a quem doer
Minha vontade é a tua
Nós havemos de vencer

sábado, 12 de junho de 2010


A velhinha estação da CP, de Casa Branca, onde já não são vendidos bilhetes.

Esmeraldina Pinto

Penas que fazem pena

Com pena pus-me a escrever
As penas do coração
Com pena de não te ver
Caiu-me a pena da mão

Agarro a pena com fé
Para voltar a escrever
Assim foi e assim é
O que é pena faz sofrer

É pena estares ausente
É pena a pena sentir
É pena eu ter presente
A hora do teu partir

É pena não regressares
Como é o meu desejo
É pena se não voltares
Pena é se não te vejo

É pena não te esquecer
Como te esqueces de mim
É pena a pena sofrer
Pena a pena não ter fim

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Esmeraldina Pinto

Viver sem ti meu amor

Viver sem ti meu amor
É Primavera sem flor
É viver desesperada
É a Lua a escurecer
O Sol sem aparecer
A noite sem madrugada

Viver sem ti é esperar
É tudo por realizar
Um coração a sofrer
Viver sem ti não é vida
E uma esperança perdida
Sem ti não posso viver

Viver sem ti não é nada
É uma luz apagada
É viver desiludida
É remar contra a maré
É perder na vida a fé
Viver sem ti não é vida

Viver sem ti é portanto
Ter o coração em pranto
Ter vida e não viver
Viver sem ti é lamento
É um constante tormento
Viver sem ti é morrer

Esmeraldina Pinto é uma poeta Escouralense, nascida em 1925, é doméstica e reside em Casa Branca.

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Nesta casa nasci, em 05 de Outubro de 1945, sendo a minha mãe assistida por uma comadre que por isso e conforme a tradição ficou minha madrinha de umbigo, e nesta mesma casa vivi os meus primeiros dois anos. Hoje já beneficiada com obras de recuperação, tinha na época um telhado de duas águas e telhas árabes.
Já depois de mudar para outra casa, a minha mãe costumava utilizar o forno (cuja porta se vê ao fundo) para cozer os bolos da Páscoa, ocasião que era uma festa, para mim e minhas irmãs mais novas, sobretudo quando chegava a ocasião de raspar os alguidares...

Chica Estreitinho

Rosa que estás na roseira
Deixa-te estar fechadinha
Enquanto vou à minha terra
Que em de lá vindo serás minha

És a rainha das flores
Que aparecem no jardim
Talvez nascesses para mim
E teus olhos encantadores
Entre todos os amores
Tu és a minha verdadeira
Antes que teu pai não queira
E a tua mãe diga não
Deixa-te estar em botão
Rosa que estás na roseira

Delicado amor perfeito
Onde vieste florir
Onde havia de existir
Uma rosa, no meu peito
Eu sempre te amei com jeito
Nesse deserto sozinha
Pega numa flor das minhas
Para o teu ramo enfeitares
Para a cor não lhe mudares
Deixa-te estar fechadinha

Querida do meu coração
Decora-me esta cartinha
Enquanto tu não fores minha
Não tenho consolação
Dá-me a tua direita mão
Amor com amor se encerra
Trago o meu amor em guerra
De ti não me desengano
Só peço de espera um ano
Enquanto vou à minha terra

Nem em vasos nem jardins
Nem no palácio do rei
Nunca vi nem encontrei
Tão delicado jasmim
Junto à flor do alecrim
Rosa tão encarnadinha
Com a folha tão miudinha
Eu faço gosto em te amar
Não te deixes desfolhar
Que em e lá vindo serás minha