domingo, 30 de setembro de 2012

António Aleixo é indiscutivelmente um dos maiores poetas populares portugueses. Utilizava as palavras de forma notável e, sem dúvida, com extrema facilidade. Deixou claramente expressa a sua elevada consciência de classe, o seu desprezo pela injustiça, pelas desigualdades sociais, pela ganância.
Estou profundamente convencido que, se fosse vivo no tempo presente, denunciaria com a sua mestria nos seus versos a dura realidade criada ao povo do seu país.

Acho uma moral ruim
Trazer o vulgo enganado:
Mandarem fazer assim
E eles fazerem assado.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

António Aleixo

Abusas do teu poder,
Puseste-me uma mordaça
P'ra eu não poder dizer
Quem fez a minha desgraça.

Não creio que penses bem
Ao querer que eu pense assim;
Porque creio que ninguém
Poderá pensar por mim.

Não me dêem mais desgostos
Porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
A sofrer sem protestar!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

António Aleixo

Tu que vives na grandeza,
Se calçasses e vestisses
Daquilo que produzisses,
Andavas nu, com certeza.

Tu andas cheio, eu vazio;
Tens à escolha o que quiseres.
Comes o melhor que eu crio,
Eu como o que tu não queres.

Quando morrermos já sei...
Tens padres missas e luzes;
Dobram os sinos, levas cruzes,
E eu... nem caixão levarei

Se andas comigo à pancada,
A Justiças comprarás...
Arranjas uma embrulhada,
Que vou preso e tu não vás.

sábado, 22 de setembro de 2012

António Aleixo

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!

Metade do mundo come
À custa de outra metade;
Viver com honestidade
É abrir portas à fome...

A fartura ao pé da fome,
Raramente se dá bem:
Quase sempre quem tem come
À custa de quem não tem!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


António Aleixo

Esta mascarada enorme
Com que o mundo nos aldraba,
Dura enquanto o povo dorme,
Quando ele acordar, acaba.

(Tão actual o Gr António Aleixo!)

domingo, 9 de setembro de 2012