terça-feira, 15 de junho de 2010

José Augusto Ferrão

Nota prévia: Quando criei o rimapontocom, em 19/10/09, utilizei o mote deste poema, por o considerar lapidar de uma filosofia de vida. JAF expressa nele uma sabedoria respeitável. Por essa razão é hoje o seu poema inserido aqui integralmente.

Diz-me agora aqui burguês
Quem é que tanto te deu
Quando tu vieste ao mundo
Vieste nu como eu

Caíste entre almofadinhas
Nasceste como um tesouro
Teus pais deram-te um berço de oiro
E boas roupas quentinhas
Eu tive humildes palhinhas
A minha sorte talvez
Eu não vi uma só vez
Como tu tanta riqueza
De onde veio a tua nobreza
Diz-me agora aqui burguês

Tantas herdades florindo
Logo ao nascer tu tiveste
Mas do sítio de onde vieste
Elas não podiam ter vindo
Embora dinheiro possuindo
Tua mãe ao ter-te sofreu
Mas a minha mais padeceu
Que a miséria traz sofrimento
Mas se és rico avarento
Quem é que tanto te deu

Esse tesouro afamado
Quando ao mundo chegaste
Já juntinho encontraste
Pelo teu pai arranjado
Mas lembra-te que foi roubado
A quem com esforço profundo
Cavava a terra sem fundo
E lamentava o seu mal
O teu pai veio tal e qual
Como tu vieste ao mundo

És rico e vives contente
A ti não te falta nada
Tens uma casa recheada
Devias ser indulgente
Repartires com toda a gente
Que o que tens lá não é teu
É de quem o celeiro encheu
Regando a terra com suor
Enquanto tu explorador
Vieste nu como eu

Sem comentários:

Enviar um comentário