sábado, 9 de janeiro de 2010

Manuel António Pereira (Manel Papeleiro)

Quando oiço cantar o fado
Faz-me lembrar a Caveira
Onde ouvi o meu pai cantar
Sentado junto à lareira

Quando vejo uma reunião
De amigos e de poetas
Vem o luto como setas
Invadir-me o coração
Recorda-me o meu torrão
O lar onde fui criado
O berço em que fui dentado
Era cheio de poesia
Sinto presa a alegria
Quando oiço cantar o fado.

Onde eu dei os primeiros passos
Recorda-me um velho monte
Minha mãe quando ia à fonte
Levava-me nos seus braços
Punha-me fitas e laços
Compunha-me à sua maneira
Essa mãe aninhadeira
Tanto zelou por seu ninho
Em vendo amor e carinho
Faz-me lembrar a Caveira.

Como um xaile de cadilhos
Era meu pai rodeado
Uns no colo, outros ao lado
Assim elucidou os filhos
Quem seguiu os seus bons trilhos
No mundo não pode errar
Se eu hoje canto é pr'a honrar
O meu pai que faleceu
Mas muito melhor do que eu
Ouvi o meu pai cantar.

Esses tempos amorosos
Que eu gozei na tenra idade
Revelam hoje em saudade
Ao lembrar meus pais extremosos
Momentos deliciosos
Calor da sua braseira
Meu pai, a sua canseira
Ao voltar do seu labor
Era ver os filhos com amor
Sentados junto à lareira.

Estas décimas, estão inseridas no livro "ao POVO do meu PAÍS", edição da Câmara Municipal de Grândola, de 1996.
Manel Papeleiro, natural de Grândola, nasceu em 1918 no Monte da Caveira. Começou a trabalhar aos sete anos de idade, a guardar gado. Foi, depois, trabalhador do campo, mineiro, operário cerâmico, vendedor de peixe, pedreiro e fogueiro. É caso para dizer-se que foi o homem dos sete ofícios! É autor de inúmeros poemas, alguns dos quais estão reunidos no livro acima referido.

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