quinta-feira, 23 de setembro de 2010

José Virgínia

Uma Linda Quadra

Dedicada aos imigrantes

Mote

Ó país desabitado
Por uma doce ilusão
Uns p'ra qui outros p'ra lém
Já muitos poucos cá estão

Eu vejo tudo abalar
seja novo ou seja velho
vão procurar o mistério
porque podem trabalhar
seis contos não posso dar
para não ficar endividado
não quero pedir emprestado
para não ficar a dever
e por isso estou a sofrer
ó país desabitado

Eu pensei em abalar
tinha falta de lá ir
mas queria-me prevenir
para mim algum cá deixar
tenho as taxas a pagar
todas juntas num moitão
a carteira sem tostão
porque nasci pobrezinho
e à quem se meta ao caminho
por uma doce ilusão

Há muitos que para lá vão
que não deviam abalar
vão a vida estragar
têm cá dinheiro e pão
chegou à conclusão
portugueses mais de cem
isto é tudo um vai vem
só vão gozar e gastar
e todos querem experimentar
uns p'ra qui outros p'ra lem

Vejo tantas terras compradas
os prédios em construção
não ganhavam para o sabão
vivia-se em arramadas
hoje têm casas preparadas
~quem tenha bom coração
voltam sempre à geração
para cumprir o seu dever
e todo aquele que souber ler
já muito poucos cá estão

Este poema foi copiado do livro "Poetas Populares Alentejanos" de Modesto Navarro. É no livro apresentado como exemplo de décima editada em folheto pelo autor, sendo cada folheto vendido ao preço de 1$00. E, como era costume, vendido nas feiras e porta a porta.
Deduz-se, pelo tema, que terá sido escrito na década de sessenta do século XX. Quando o autor escreveu imigrantes, referia-se a Emigrantes.

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