sábado, 24 de outubro de 2009

Modesto Martins Lopes



Televisão

Não sei como as coisas são
Para andar bem informado
Comprei uma televisão
Não devia ter comprado

Pensei ser um grande amigo
O aparelho que comprei
De certo que me engansi
Passa o tempo não lhe ligo
Suportá-lo não consigo
è arma da reacção
Dentro da nossa nação
É um instrumento perigoso
Não sei como as coisas são

É um móvel de fantasia
Da propaganda americana
Onde raivosamente se irmana
A política da burguesia
Sem saber o que fazia
Dei dinheiro mal empregado
Fiquei assim enganado
A maldade nela ressalta
Comprei porque me fazia falta
Para andar bem informado

As famosas telenovelas
Há dias que são aos pares
A destruição de muitos lares
É espelhada por elas
São isto fortes mazelas
Que trazem a podridão
Para quem tem noção
O seu valor é um zero
Para ver o que não quero
Comprei uma televisão

Seria um caso de envergadura
Com um sentido correcto
Se ajudasse o analfabeto
No caminho da cultura
Era uma escala segura
Se não pendessem só para um lado
Com um esquema transfigurado
A televisão era um bem
Como disse nada tem
Não a devia ter comprado

Modesto Lopes, nasceu em 1940 em Vale de Água, Santiago do Cacém. Tem apenas a 4ª classe do ensino primário elementar. Começou a poetar aos 11 anos. Assume que os seus poemas contêm elementos autobiográficos.

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