segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Manuel Maria Eusébio, o Calafate

Nunca fui mal procedido

Nunca fui mal procedido,
Nunca fiz mal a ninguém,
Se acaso fiz algum bem,
Não estou d'isso arrependido.
Se mau paga tenho tido,
São defeitos pessoais;
Todos seremos iguais
No reino da eternidade;
Na balança da igualdade
Deus sabe quem fez mais.

"o Calafate viveu o seu tempo; dramatizou-o e contou-o com o imenso talento que se lhe reconhece"
"Num homem sem instrução de espécie alguma, a não ser a que espontaneamente colheu na prática da sua longa vida, é admirável esta sua maleabilidade de talentos, e esta facúndia métrica."
Arlindo Mota

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Romeu Embaixador

Crença de um Povo

Ouvi aos velhos do mar
que, em noites de lua cheia,
As ninfas se aproximavam,
Para ouvir cantar a sereia.

Dessa doce melodia,
Dessa canção divinal,
Ainda hoje a baia
Tem um perfume frugal.

Refrão
Crença de um povo
Com origem na ralé
Que usava cinta e barrete
Como o velho Zé André

A Lua ainda te visita
E cobre-te com o seu manto.
Piscosa, a eterna bemdita,
É bem divino o teu canto.

Chamar-te-ei, puro amor,
No seu eterno cantar,
Das deusas a mais formosa,
Oh! afrodite do mar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Romeu Embaixador

Pescador do alto mar

Pescador do alto mar
Que pretendes tu buscar
Que abandonas o teu lar?

Não vês que a última aresta
Que teu sentir manifesta
É divindade que resta?

Já lá rompe a lua cheia
Ouço o cantar da sereia
Trazes o pão que granjeia

Quantos tormentos passaste,
A quantos deuses rogaste
Mas de voga já voltaste

Trazes o pão que ganhaste
Com que teus filhos criaste
No fadário que arrostaste

Romeu Embaixador, nasceu em 1922

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rafael Augusto Rodrigues



Pinhal Novo como eu te vi
Quando para cá vim morar
Bons momentos eu vivi
Para hoje recordar.

Gosto de ti a valer
Pinhal Novo és-me tão querido
Jamais serás esquecido
Nos anos em que eu viver.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Rafael Augusto Rodrigues



"O Comboio Era a Vapor"

O que hoje vos vou contar
Tem para mim muito valor
Porque comecei a trabalhar
Quando o Comboio era a vapor.

Na Estação, É dada a Partida...
Pondo-se logo em andamento,
Com Velocidade estabelecida
Até ao próximo afrouxamento.

Corre... Corre... Corre...

A sua missão é andar,
Atravessando Vales e Montes
Começando logo a Apitar
Ao aproximar-sa das Pontes.

Quando vai numa subida
Já andando lentamente
Preparando-se de seguida
Para uma nova pendente.

É vê-lo ganhar Velocidade
Rangendo, Chiando e apitando,
Para falar com verdade
Parece que vai galopando.

Isto era antigamente,
Com a Máquina a Vapor, Fumegando...
Lançando o fumo no ar
Parecendo, de vez em quando,
Ouvi-la a resfolgar.

Ou por vezes sussurrando...
Devagar, devagar, devagar,
Quando se vai aproximando
Da próxima Estação, pr'a parar.

Parando em obediência
À paragem estabelecida
Para cumprir sua missão
Sendo-lhe dada nova Partida,
Pelo Chefe da Estação.

Abalando de seguida
Dando sempre a mesma imagem
Quando se aproxima nova subida
Até à seguinte paragem.

Sempre ele vai apitando
Ouvindo-se lá do alto da Serra
Nos sons que vai lançando:
Pouca Terra... Pouca Terra... Pouca Terra...

Comboio que foste inventado
Para servir as Populações
Hoje és tão mal tratado
Sofrendo muitas contestaçoes.

E esta a tua imagem,
Do Comboio já Lendário
Sendo esta a Homenagem
Dum Antigo FERROVIÁRIO.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Rafael Augusto Rodrigues



"primeira carta escrita após ter chegado a Évora quando me fui apresentar no Quartel de Artilharia Ligeira Nº.1"

Quando entrei na Carruagem
Já o Comboio ia a andar
Passei por minha Casa
Vi minha MÃE a chorar.

Quando cheguei a Évora
Fui direitinho ao Quartel
Para despir o meu fato
E deixar de ser RAFAEL.

Ali me deram um papel
Com números, assim dizia:
És o Trezentos cinquenta e cinco
Da SEXTA BATARIA.

Depois de receber a FARDA
Com roupa de todo o tamanho
Fiz uma Trouxa com tudo
E fui logo tomar banho.

Depois de tomar o banho
E ficar bem lavado
Vesti a minha Farda
E então já era SOLDADO.

No outro Dia às Seis Horas
Lá estava tudo a pau
Preparados para beber
A CANECA do BACANAu.

O Rafael, nasceu em Moura, em 1923. Ferroviário, reformado, é uma figura muito popular no Pinhal Novo (e não só), terra onde reside há dezenas de anos, e onde continua a participar activamente na vida social e política. Para além de poeta,dedica-se à guarda de instrumentos de trabalho - que usou na sua vida profissional - os quais se encontram expostos no seu museu pessoal.

sábado, 14 de novembro de 2009

Domingos manuel Correia Lopes

Algas

Jardins desfolhados sem piedade
seres desabrigados sem sustento
ao ver enorme crueldade
evoco meu grito meu lamento.

Negros fantasmas esfomeados
ignorando tamanho mal
assim vivendo dos seus pecados
como se fosse tão natural.

Massacrando assim a natureza
um pouco deles próprios destruindo
pequeninos a imaginar tanta grandeza
vão sau própria imagem denegrindo.

É hora de dizer amigos basta!
e ensinar a quem vier atráz
já que a fome e a guerra se arrasta
deixai o fundo do mar em paz.

Domingos Lopes "Xoxinha", natural e residente em Sesimbra, nasceu em 1946. Tem apenas a 4ª. classe do Ensino Prímário

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Florinda Maria Farinha Mata Garrafa

Primavera

Voltai Primavera com teu corpo morno
Encher Céus e Terra com brisa de côr
E com raios de sol fazer um adorno
Para mostrar ao mundo todo o teu explendor.

Em bandos de côr voltai andorinhas
Dando voz aos prados com seus chilreados
Sobrevoai os Céus já não estão sózinhas
Sulcando a terra já estão os arados.

Voltai borboletas colhendo o pólen
De cravos rubros e já germinados
Surgem malmequeres aqui e além
Em campos desertos mas já semeados.

Vem primavera em cor deslumbrante
Com teu corpo morno aquecer a rua
E o pescador faz-te sua amante
Quando vai pescar em noites de lua.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Florinda Maria Farinha Mata Garrafa

"Aos filhos da droga"

Mãe que sofreste ao teu filho parir
Não te arrependas de o ter feito nascer
Deitás-te ao mundo uma flor por abrir
Todo o seu mal foi não saber viver.

Foi uma flor que ao mundo veio pura
E que pela vida se viu desfolhada
Ele caminhando pela noite escura
Mas no fim da estrada há a madrugada

Mãe que sofreste ao teu filho parir
Dá-lhe o teu carinho e o teu amor
E no seu coração faz-lhe sentir
Que a vida é bela e não é só dor.

Foi vítima da droga essa flor
Mas teu filho, não deixou de o ser
Estende-lhe a mão ergue-o com amor
O amor é forte e há-de vencer.

Florinda, é natural de Sesimbra, nasceu em 1951, tem apenas a 4ª classe do ensino primário

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Augusto Pinto Sobral

"Retrato"

Sesimbra os meus amores
Terra de sonho e poesia,
Dá-te o mar perfume e flores
Que são algas e marezia.

Tu és tão linda e tão bela
Que até Camões te cantou,
E és a mais rara aguarela
Que a natureza pintou.

Tão bonita e tão prendada
Que as tuas águas tão mansas
E a tua praia adorada,
São brinquedos de criança.

Na praia de lés a lés
Muito calmo e docemente,
O mar curvando a teus pés
Te beija constantemente.

O verde brando do mar
O azul do céu sobre o monte,
São telas que se confundem
Na linha do horizonte.

Vê-de a côr do sol nascente
E o céu rubro do Sol-pôr,
Só sabe sentir quem sente
Não ter nascido pintor

No cimo do velho castelo
Parece dizer, sorrindo...
Venham ver o que há de belo
Num panorama tão lindo!

...

Augusto Sobral, natural de Sesimbra, nasceu em 1914.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Maria Eufrásia Gomes Pólvora Santos

"Sonho"

Sonhei com um dia diferente
Do dia que já passou
Sonho como toda a gente
Ter o dia que sonhou.

Mas o dia que sonhei
Cheio de paz e alegria
Mas nele não encontrei
Um sonho de um novo dia.

Mas esse dia sem fim
Que eu sonhei que era diferente
Só foi dia para mim
Mas não para toda a gente.

Mas o sonho se acabou
de manhã ao acordar
Mas esse dia findou
Sem chegar a começar.

Maria Eufrásia tem 67 anos. Possui apenas a 4ª classe do ensino primário.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Encarnação Sousa Silva

Apenas Recordo em Ti

Sesimbra vive o progresso
Com grande satisfação
Eu quase já não conheço
Essa Sesimbra de então

Clara nascer do sol
Rcordando dou-te apreço
Desde a ponta do farol
Do castelo à mina do gesso

Nas serras já tenho estado
Pensando junto de ti
Parece que oiço o passado
Como te lembras de mim

E vejo minha terra inteira
A Assenta inda lá fora

A Assenta inda lá mora
Com a sua estrada à beira
E transportes sem demora

A Assenta inda lá mora
Que paz tinha a repousar
Findaram rios e fontes
Que vinha adoçar o mar

E nestas serras remotas
Que o sol as vem abraçar
Lindos bandos de gaivotas
Eu via nelas poisar

Mas a verdade prevalece
Agora és mais linda assim
Há coisas que nunca esquece
Por isso recordo em ti.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Encarnação Sousa Silva

O Pescador e o mar

Uma nuvem veio poisar
Sesimbra linda sem par
que Deus criou com amor
p'ra ser rainha piscosa
os espinhos e a rosa
deste povo pescador

Vive o teu pensamento
A voz em todo o momento
do mar que é tua paixão
partes lá vais sem temor
é a vida do pescador
percorrendo a imensidão

Chamam-te lobo do mar
porque és louco a trabalhar
nós sabemos como és
que mesmo arriscando a vida
lá vais na rota batida
com rumo a outras marés

Começa de pequenino
cada um com seu destino
combatendo com o mar
esta gente encara a vida
por distâncias sem medida
sem saber se vai voltar

Mas logo ao cair da noite
regressas e sempre afoito
trazes na alma a vitória
por seres pescador sem medo
tens a arte e o segredo
da pesca que é tua glória.

Encarnação Silva é natural de Sesimbra, nasceu em 1932 e possui apenas a 3ª classe do ensino primário. Sesimbra e o mar são temas que aborda com toda a ternura.

domingo, 1 de novembro de 2009

Edmundo Reis

Virtudes

Se fosse possível pesar
As virtudes e os defeitos
Podia avaliar
O valor de alguns sujeitos

As virtudes e os defeitos
São os humanos que os têm
Umas mais, em alguns sujeitos
Outros, não os assume ninguem

Virtudes todos nós temos
E os defeitos também
Mas muitas vezes não vemos
O que somos, mal ou bem