Ouro de lei
Penso mil vezes
Aquilo que não digo.
Digo mais vezes
Aquilo que não penso.
Mas quando penso,
E digo,
Nunca sai
Coisa que valha,
Coisa que tenha
Senso.
Ai l... Se eu pensasse,
E não pensasse tanto l...
Ai l... Se eu dissesse
Só aquilo que sei,
Seriam prata
Os versos que hoje canto
Seriam de ouro
Os versos que calei.
sábado, 28 de maio de 2011
Regresso
Volto hoje ao rima depois de alguns dias de ausência por motivos de viagem. Viagem essa que decorreu na perfeição. Então, saúdo todos os visitantes deste espaço que terão a partir de agora coisas novas.
terça-feira, 17 de maio de 2011
João Farelo
Esperança
Lá longe
Muito longe...
Onde começa tudo
Há uma esperança
Que me espera;
Um mar
Finalmente chão;
Uma praia
Livre de escolhos;
Uma mulher que não se cansa
E que sempre espera por mim;
Ou a última página,
A das soluções;
Ou a errata da minha vida;
Ou outro raio de outra coisa
Que não sei o que é,
Porque não a tenho... ainda,
Mas... quem sabe?!...
Lá longe ou mais além...
Lá longe
Muito longe...
Onde começa tudo
Há uma esperança
Que me espera;
Um mar
Finalmente chão;
Uma praia
Livre de escolhos;
Uma mulher que não se cansa
E que sempre espera por mim;
Ou a última página,
A das soluções;
Ou a errata da minha vida;
Ou outro raio de outra coisa
Que não sei o que é,
Porque não a tenho... ainda,
Mas... quem sabe?!...
Lá longe ou mais além...
O senhor João Farelo, prestigiado comerciante da baixa de Setúbal, nascido nesta cidade em 1943, é proprietário e gerente dum estabelecimento de sementes, rações e animais e acessórios a estes associados, conhecida por Casa Farelo - esta é de facto a genuína Casa Farelo fundada há já largas dezenas de anos. É autor do livro Amanhã será o hoje, onde dá a conhecer poemas de beleza singular, constituindo cada um deles reflexões imbuídas de profundidade e seriedade.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
João Farelo
Da minha varanda
O rio é pouco mais azul que o céu,
A lamber a cidade enorme e quieta,
As nuvens são castelos ambulantes
Em busca da distante e ignota meta,
Ao longe, o infinito é só um traço,
Por trás da estranha Tróia de cimento,
Ruas de asfalto, torres de vidro e aço,
Só o mar é o mesmo, imenso e lento,
Ao lado vê-se a serra a emoldurar
Este quadro - cidade - entardecer,
E os guindastes do cais parecem armas
Defendendo esta paz de enternecer;
Vê-se assim a cidade, de onde vivo,
Com olhos de poeta sonhador,
Tudo é beleza aos olhos de quem sonha,
Até o grito é canto, até o negro é cor.
O rio é pouco mais azul que o céu,
A lamber a cidade enorme e quieta,
As nuvens são castelos ambulantes
Em busca da distante e ignota meta,
Ao longe, o infinito é só um traço,
Por trás da estranha Tróia de cimento,
Ruas de asfalto, torres de vidro e aço,
Só o mar é o mesmo, imenso e lento,
Ao lado vê-se a serra a emoldurar
Este quadro - cidade - entardecer,
E os guindastes do cais parecem armas
Defendendo esta paz de enternecer;
Vê-se assim a cidade, de onde vivo,
Com olhos de poeta sonhador,
Tudo é beleza aos olhos de quem sonha,
Até o grito é canto, até o negro é cor.
domingo, 15 de maio de 2011
"uma porta para o alentejo"
Os últimos poemas publicados neste sitio, da autoria de Eduardo Olímpio, poeta, escritor, jornalista, alentejano - um apaixonado do seu Alentejo - foram retirados do livro UMA PORTA PARA O ALENTEJO, editado pela Associação de Municípios do Distrito de Beja. Neste livro, com texto de Eduardo Olímpio, fotografias de Inácio Ludgero (são do livro as fotos que ilustram as transcrições que faço) e arranjo gráfico de António Martins, perpassa todo o amor pelo Alentejo, as suas gentes, as suas paisagens. Fotos a preto e branco sublimes e um texto, todo ele um poema impressivo - "amigo/amiga/vais entrar connosco no mais belo país do mundo (...) deste chão que só não invento porque existe com o nome lindo de alentejo."
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Eduardo Olímpio
vamos amigos jogar a bilharda
vamos rapazes que a noite não tarda
já vem ti romão com o burro da água
pingando plo chão invernos de mágoa
já vem margarida de infusa ao quadril
e os moços espreitando-a aos cem e aos mil
vamos amigos jogar a bilharda
vamos amigos que o tempo já tarda
mariano loução chegou com o peixe
já tocou o búzio não há quem o deixe
são a mim a mim as mulheres com tarros
e loução nas calmas fumando cigarros
ti chica bailoa com cento e dois anos
penteia e assoa trinetos maganos
vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a noite não tarda
não tarda a chegar com dores nos rins
com olhos de ver só coisas ruins
com mãos a tremer catarro na voz
o mundo a viver e a gente tão sós
vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a morte não tarda
vamos rapazes que a noite não tarda
já vem ti romão com o burro da água
pingando plo chão invernos de mágoa
já vem margarida de infusa ao quadril
e os moços espreitando-a aos cem e aos mil
vamos amigos jogar a bilharda
vamos amigos que o tempo já tarda
mariano loução chegou com o peixe
já tocou o búzio não há quem o deixe
são a mim a mim as mulheres com tarros
e loução nas calmas fumando cigarros
ti chica bailoa com cento e dois anos
penteia e assoa trinetos maganos
vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a noite não tarda
não tarda a chegar com dores nos rins
com olhos de ver só coisas ruins
com mãos a tremer catarro na voz
o mundo a viver e a gente tão sós
vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a morte não tarda
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Eduardo Olímpio
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e ao lado do coração
leva a rosa da justiça
e o teu filho pela mão
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o teu braço liberto
para abraçar teu irmão
esse irmão que está tão perto
do teu aperto de mão
e que tão longe amanhece
nos campos da solidão
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva a alegria de seres
irmão de quem vai parir
uma seara de trigo
uma charneca a florir
um rebanho e um abrigo
e um amanhã que há-de vir
como se fosse outro amigo
dentro do sol a sorrir
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e o teu filho pela mão
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e ao lado do coração
leva a rosa da justiça
e o teu filho pela mão
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o teu braço liberto
para abraçar teu irmão
esse irmão que está tão perto
do teu aperto de mão
e que tão longe amanhece
nos campos da solidão
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva a alegria de seres
irmão de quem vai parir
uma seara de trigo
uma charneca a florir
um rebanho e um abrigo
e um amanhã que há-de vir
como se fosse outro amigo
dentro do sol a sorrir
se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e o teu filho pela mão
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Eduardo Olímpio
eram campos e montados
nos olhos de antigamente
e a estrada furando o tempo
pondo o passado na frente
eram velhos às empenas
do monte espreitando o sol
e eu de nove desdobrando
os seus nomes no meu rol
era alvalade era ermidas
e as moças que eu namorei
(oh, canos das caçadeiras
dos pais que não consultei!)
era um regalo um regaço
- que me embalava na estrada
meu Alentejo de tanto
com tantos a não ter nada
eram campos e montados
um assombro de arvoredos
e os olhos ressuscitados
do pasmo de não ter medos
e plos campos campos fora
meus olhos de alentejano
brilhavam mais do que a aurora
brilhavam mais do que a aurora
meus olhos de antigamente
eram campos campos fora
pondo o passado na frente
nos olhos de antigamente
e a estrada furando o tempo
pondo o passado na frente
eram velhos às empenas
do monte espreitando o sol
e eu de nove desdobrando
os seus nomes no meu rol
era alvalade era ermidas
e as moças que eu namorei
(oh, canos das caçadeiras
dos pais que não consultei!)
era um regalo um regaço
- que me embalava na estrada
meu Alentejo de tanto
com tantos a não ter nada
eram campos e montados
um assombro de arvoredos
e os olhos ressuscitados
do pasmo de não ter medos
e plos campos campos fora
meus olhos de alentejano
brilhavam mais do que a aurora
brilhavam mais do que a aurora
meus olhos de antigamente
eram campos campos fora
pondo o passado na frente
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Eduardo Olímpio
fiz um contrato com o vento
de não me deixar prender
nem por oiros nem por falas
nem por balas de morrer
fiz um contrato com o vento
que hei-de cumprir por inteiro
dizer pão e dizer povo
desde janeiro a janeiro
fiz um contrato com o vento
sobre as arribas da serra
de só apertar a mão
a quem disser não à guerra
fiz um contrato com o vento
que o vento não sabe ler
mas entende deste mundo
mais que os livros de saber
fiz um contrato com o vento
entre estevas e pinhais
posso cantar toda a noite
que ninguém me prende mais
ninguém me amarra a canção
na liberdade que invento
que o vento é meu aliado
e ninguém amarra o vento.
de não me deixar prender
nem por oiros nem por falas
nem por balas de morrer
fiz um contrato com o vento
que hei-de cumprir por inteiro
dizer pão e dizer povo
desde janeiro a janeiro
fiz um contrato com o vento
sobre as arribas da serra
de só apertar a mão
a quem disser não à guerra
fiz um contrato com o vento
que o vento não sabe ler
mas entende deste mundo
mais que os livros de saber
fiz um contrato com o vento
entre estevas e pinhais
posso cantar toda a noite
que ninguém me prende mais
ninguém me amarra a canção
na liberdade que invento
que o vento é meu aliado
e ninguém amarra o vento.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Eduardo Olímpio
ainda eu era pequenino
já minha mãe me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.
e eu pegava na sacola
ia prós campos cavar:
os outros iam prá escola
eu já ia trabalhar.
passei as passas da vida,
fui mourejando e assim
soube que e vida é subida
que custa a chegar ao fim.
mas que teima quem porfia
sempre adrega o que sonhou:
e hoje em dia em cada dia
já sei o homem que sou.
já sei que a terra é a razão
dos que trabalham a terra:
e quem à razão diz não
não quer a paz quer a guerra.
e era em paz que a minha mãe
tantas vezes me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.
já minha mãe me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.
e eu pegava na sacola
ia prós campos cavar:
os outros iam prá escola
eu já ia trabalhar.
passei as passas da vida,
fui mourejando e assim
soube que e vida é subida
que custa a chegar ao fim.
mas que teima quem porfia
sempre adrega o que sonhou:
e hoje em dia em cada dia
já sei o homem que sou.
já sei que a terra é a razão
dos que trabalham a terra:
e quem à razão diz não
não quer a paz quer a guerra.
e era em paz que a minha mãe
tantas vezes me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.
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