Xamahti-me pé de jília,
Ê nã çô tã delicada,
Nã çô bunita nê fêa
Çô êm ti mál empregada.
Uma belha muntu belha,
Mai' belha q'a çaragoça,
Le falarôm êm cazá,
De belha turnô-çi moça.
Azêtona pequenina
Toda bai par'ó alagá
Ê tambei çô pequenina,
Mas çô firme nu amá.
Êngrata pur que razão
Na' falaZó tê amô,
Tendu tu ubrigação
De falá çej' a que fô?
Çubi ó artu da torri,
Pa bê currê u Guadiana,
Mai bal uma hóra di amori'.
Q'a jorna d'uma çemana.
Ó alta çerra da nebe,
Dond'u ôiru ritiniu:
Ninguei diga u que na çabe,
Nim ç'afirme u que na biu.
Já Juzé Mané na canta,
Cantom u' çê Z apendízi:
Quandu çe çéca uma pranta,
Reberdeçe na raizi.
Em Filologia Barranquenha
segunda-feira, 30 de abril de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
Hino da Maria da Fonte
Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir
Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!
Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!
“Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir
Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!
Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!”
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir
Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!
Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!
“Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir
Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!
Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!”
sábado, 28 de abril de 2012
O Povo Unido Jamais Será Vencido!
De pé, cantar, que vamos triunfar
Avançam já bandeiras de unidade
Já vão crescendo brados de vitória
E tu verás teu canto e bandeira, florescer
A luz de um rubro amanhecer,
Milhões de braços fazendo a nova história.
De pé, marchar, que o povo vai triunfar
Agora já ninguém nos vencerá
Nada pode quebrar nossa vontade
E num clamor mil vozes de combate nascerão
Dirão, canção de liberdade;
Será melhor a vida que virá.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
O povo está forjando a unidade
De norte a sul, na mina e no trigal
Somos do campo, da aldeia e da cidade
Lutamos unidos pelo nosso ideal, sulcando
Rios de luz, paz e fraternidade
Aurora rubra serás realidade
De pé, cantar, que o povo vai triunfar
Milhões de punhos impõem a verdade
De aço são, ardente batalhão
E as suas mãos levando a justiça e a razão
Mulher, com fogo e com valor
Estás aqui junto ao trabalhador.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
De pé, cantar, que vamos triunfar
Avançam já bandeiras de unidade
Já vão crescendo brados de vitória
E tu verás teu canto e bandeira, florescer
A luz de um rubro amanhecer,
Milhões de braços fazendo a nova história.
De pé, marchar, que o povo vai triunfar
Agora já ninguém nos vencerá
Nada pode quebrar nossa vontade
E num clamor mil vozes de combate nascerão
Dirão, canção de liberdade;
Será melhor a vida que virá.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
O povo está forjando a unidade
De norte a sul, na mina e no trigal
Somos do campo, da aldeia e da cidade
Lutamos unidos pelo nosso ideal, sulcando
Rios de luz, paz e fraternidade
Aurora rubra serás realidade
De pé, cantar, que o povo vai triunfar
Milhões de punhos impõem a verdade
De aço são, ardente batalhão
E as suas mãos levando a justiça e a razão
Mulher, com fogo e com valor
Estás aqui junto ao trabalhador.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
De pé, cantar, que vamos triunfar
Avançam já bandeiras de unidade
Já vão crescendo brados de vitória
E tu verás teu canto e bandeira, florescer
A luz de um rubro amanhecer,
Milhões de braços fazendo a nova história.
De pé, marchar, que o povo vai triunfar
Agora já ninguém nos vencerá
Nada pode quebrar nossa vontade
E num clamor mil vozes de combate nascerão
Dirão, canção de liberdade;
Será melhor a vida que virá.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
O povo está forjando a unidade
De norte a sul, na mina e no trigal
Somos do campo, da aldeia e da cidade
Lutamos unidos pelo nosso ideal, sulcando
Rios de luz, paz e fraternidade
Aurora rubra serás realidade
De pé, cantar, que o povo vai triunfar
Milhões de punhos impõem a verdade
De aço são, ardente batalhão
E as suas mãos levando a justiça e a razão
Mulher, com fogo e com valor
Estás aqui junto ao trabalhador.
E agora, o povo ergue-se e luta
Com voz de gigante, gritando avante
O povo unido jamais será vencido
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Cantigas vulgares de Barrancos
Adeu', bila de Barrancu',
Na é de ti q' ê m' alêmbru,
É de que ehtá dentru d' ela.
Que u mê Zólhu nã htão bendu.
Ehta bila de Barrancu',
Já lhe quére pô çidade,
Porque te uma Igreja noba,
Na praça da Libardade.
Barrancu', lindu Barrancu',
manda-me de lá dizê
Çê um amô que ê la tênho
Não u turnarê a bê...
Nã me lembraba Barrancu',
Nim que tal çidadi abia,
I agora já nã mi ehquèci,
Nim dê noite nim dê dia.
Çafára na bali nada,
Môira já bal'um bintei,
Barrancu já bali tudu,
Çó pela' moça' que tei.
Na çidade de Lihboa
Quei é ricu paça bei:
Ê na bila de Barrancu,
Açim le paça tamêi.
-D' ondi bei' Mariazinha,
Que bei' tôda mulhada?
-Bênhu da Ribêra Noba
De labá bênhu cançada.
Em Filologia Barranquenha
Na é de ti q' ê m' alêmbru,
É de que ehtá dentru d' ela.
Que u mê Zólhu nã htão bendu.
Ehta bila de Barrancu',
Já lhe quére pô çidade,
Porque te uma Igreja noba,
Na praça da Libardade.
Barrancu', lindu Barrancu',
manda-me de lá dizê
Çê um amô que ê la tênho
Não u turnarê a bê...
Nã me lembraba Barrancu',
Nim que tal çidadi abia,
I agora já nã mi ehquèci,
Nim dê noite nim dê dia.
Çafára na bali nada,
Môira já bal'um bintei,
Barrancu já bali tudu,
Çó pela' moça' que tei.
Na çidade de Lihboa
Quei é ricu paça bei:
Ê na bila de Barrancu,
Açim le paça tamêi.
-D' ondi bei' Mariazinha,
Que bei' tôda mulhada?
-Bênhu da Ribêra Noba
De labá bênhu cançada.
Em Filologia Barranquenha
quarta-feira, 25 de abril de 2012
terça-feira, 24 de abril de 2012
Diálogo de animais
Uma bê ç'ajuntárom uh pôcu' de bixu'. Agora fôrom prêzu' i diizia u Pêxe áu Lôbu:
-Tu quê pidihte?
-Montanha.
I u pêxe pidiu fundura.
Agora di u Lôbu:
-I u óme que pidiu?
Di u pêxe:
-Manha.
Rehpond'u Lôbu:
-Si u ómi pidiu manha,
nã te çerbi a ti a fundura, nim a mim a montanha!
O que diz o peixe aparece também como elemento duma cantiga popular muito usual nas províncias do norte do Tejo:
O Mar pediu a Deus peixes,
Os peixes a Deus fundura,
O homem pediu riquezas,
A mulher a formosura.
(estes pedidos entende-se que se referem ao começo do mundo)
Em Filologia Barranquenha
-Tu quê pidihte?
-Montanha.
I u pêxe pidiu fundura.
Agora di u Lôbu:
-I u óme que pidiu?
Di u pêxe:
-Manha.
Rehpond'u Lôbu:
-Si u ómi pidiu manha,
nã te çerbi a ti a fundura, nim a mim a montanha!
Comentário ao diálogo de animais
O que diz o peixe aparece também como elemento duma cantiga popular muito usual nas províncias do norte do Tejo:
O Mar pediu a Deus peixes,
Os peixes a Deus fundura,
O homem pediu riquezas,
A mulher a formosura.
(estes pedidos entende-se que se referem ao começo do mundo)
Em Filologia Barranquenha
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Dia Internacional do Livro
Com o rosto desta obra do Professor J. Leite de Vasconcellos, chamo a atenção dos visitantes para o Dia que hoje se comemora. O Livro é um bom "amigo". Ler, nem que seja apenas uma página por dia, é uma salutar prática. Leiamos pois!
Ora aqui ficam três cantigas barranquenhas:
Uzólhu requere ólhu,
I u curação curaçõi
E u meu riquere uh teu
Em certa ucaziõi.
Barrâncu, pu sê Barrâncu,
Tambei tei Çerrah de pãu,
Tambei tei moçah bunita.
I preta cumò carbão.
Quandu abali de Barrâncu,
Ôlhi para trá xurandu:
Adeu, amô da minh'alma,
Que longe me bai ficandu!
Esta última cantiga em barranquenho tem a sua correspondente em Serpa:
Quando de Serpa abalei,
Olhei para trás chorando...
Adeus, ó vila de Serpa,
Que longe me vais ficando!
Esta última cantiga em barranquenho tem a sua correspondente em Serpa:
Quando de Serpa abalei,
Olhei para trás chorando...
Adeus, ó vila de Serpa,
Que longe me vais ficando!
sábado, 21 de abril de 2012
Os Trabalhadores Rurais do Alentejo e a sua luta pela posse da terra
Canais Rocha e Rosalina Labaredas abordam no seu livro Os Trabalhadores Rurais do Alentejo e o Sidonismo, editado pelas Edições Um de Outubro em 1982, uma questão central da luta do proletariado rural alentejano desde sempre: A posse da terra por quem a trabalha! A Reforma Agrária! Trata-se de um importante contributo para a questão que está por resolver. É bom lembrar que a grande conquista do 25 de Abril - a Reforma Agrária, foi pura e simplesmente destruída pela política de recuperação capitalista iniciada por Mário Soares.
Canais Rocha e Rosalina Labaredas investigaram um momento de intensa luta (e de feroz repressão) travada pelos trabalhadores rurais alentejanos no período que se seguiu à implantação da Republica, nomeadamente, experiências pontuais de ocupação e exploração colectiva de terras em Vale de Santiago/Odemira, Coruche em Amieira/Portel e Vera Cruz/Portel.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
A pastorinha exaltada
Diz: Não mais quero trabalhar
Enquanto o Zé Burguês
Não me aumentar a soldada.
Já se encontra revoltada
No meio em que vai vivendo
Começa compreendendo
Um sublime ideal
Já distingue o bem do mal
E a falta que dele campeia
Já lhe fica na ideia
O que é o comunismo
Já vê o anarquismo
Numa pequenina aldeia
(Cantiga recordada por Teresa Feliciana Gonçalves, activista da Associação dos Trabalhadores Rurais de Vale de Santiago, no depoimento que prestou sobre as lutas do período do sidonismo, para a obra Os Trabalhadores Rurais do Alentejo e Sidonismo.)
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Todo o produto é de quem sua
A corja rica o recolheu.
Queremos que ela o restitua
O pobre só quer o que é seu.
Numa pequenina aldeia
Escutem trabalhadores
Uns aos outros vão dizendo
Não mais escravos nem senhores.
(cantiga que se cantava cerca de 1918 pelos trabalhadores rurais alentejanos, cantada por Mariana Francisca Chaveiro, na recolha de depoimentos para a obra Os Trabalhadores Rurais do Alentejo e o Sidonismo, de Francisco Canais Rocha Maria Rosalina Labaredas)
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Domingos Fialho Barreto
O Pescador:
Sou dos lados de Milfontes
Minha labuta é no mar
Com a morte sempre à vista
Onde há lindos horizontes
Minha labuta é no mar
Sou dos lados de Milfontes
O Mineiro:
Nos Lombadores em Padrões
Na mina vou trabalhar
Nas profundezas da terra
Sujeito a mil baldões
Nos Lombadores em Padrões
O Lenhador:
Faço lenhas e carvão
Subo às árvores pràs cortar
Tenho a desgraça a um passo
Se delas cair ao chão
Subo às árvores pràs portar
Faço lenhas e carvão
O Pescador:
As friezas e maresias
Nunca me vão perdoar
Sinto as juntas rangendo
São dores de noite e de dia
Nunca me vão perdoar
As friezas e a maresia
O Mineiro:
Aquele pó do minério
Já sei que me vai matar
Vou sentindo o peito seco
Só me resta o cemitério
Já sei que me vai matar
Aquele pó do minério
O Lenhador:
Eu tenho mesmo destino
Já me custa a respirar
É esse gás do carvão
Junto ao pó negro e fino
Já me custa a respirar
Eu tenho mesmo destino
O Pescador:
Desde que o barco solta
Seja ou não a remar
São redes linhas e bóias
Dá-se mil e uma volta
Seja ou não a remar
Desde que o barco solta
O Mineiro:
Ganhar o pão é custoso
O mineiro não tem par
Rebentando a dura pedra
Só ar quente e humidoso
O mineiro não tem par
Ganhar o pão é custoso
O Lenhador:
Arrancada uma azinheira
Tem trabalhos a dobrar
Picar galhos serrar toros
Pró abegão e lareira
Tem trabalhos a dobrar
Arrancada uma azinheira
O Pescador:
Igual aos pombos-correios
Tenho de me orientar
Seja de noite ou de dia
Às vezes com mil rodeios
Tenho de me orientar
Igual aos pombos-correios
O Mineiro:
A mina é uma masmorra
Condenado pra ganhar
O pão do dia-a-dia
Estou eu até que morra
Condenado pra ganhar
A mina é uma masmorra
O Lenhador:
Quase não ganho prà roupa
Sujo estou por mais lavar
Os lenhos tudo me rompem
Sabendo que tenho pouca
Sujo estou por mais lavar
Quase não ganho prà roupa
O Pescador:
Chega de lamentações
Só já nos falta chorar
Falando das nossas vidas
Sem ver causas nem razões
Só já nos falta chorar
Chega de lamentações
O Mineiro:
A causa está à flor
Nem é preciso pensar
É o poder explorando
Sem justiça nem amor
Nem é preciso pensar
A causa está à flor
...
Sou dos lados de Milfontes
Minha labuta é no mar
Com a morte sempre à vista
Onde há lindos horizontes
Minha labuta é no mar
Sou dos lados de Milfontes
O Mineiro:
Nos Lombadores em Padrões
Na mina vou trabalhar
Nas profundezas da terra
Sujeito a mil baldões
Nos Lombadores em Padrões
O Lenhador:
Faço lenhas e carvão
Subo às árvores pràs cortar
Tenho a desgraça a um passo
Se delas cair ao chão
Subo às árvores pràs portar
Faço lenhas e carvão
O Pescador:
As friezas e maresias
Nunca me vão perdoar
Sinto as juntas rangendo
São dores de noite e de dia
Nunca me vão perdoar
As friezas e a maresia
O Mineiro:
Aquele pó do minério
Já sei que me vai matar
Vou sentindo o peito seco
Só me resta o cemitério
Já sei que me vai matar
Aquele pó do minério
O Lenhador:
Eu tenho mesmo destino
Já me custa a respirar
É esse gás do carvão
Junto ao pó negro e fino
Já me custa a respirar
Eu tenho mesmo destino
O Pescador:
Desde que o barco solta
Seja ou não a remar
São redes linhas e bóias
Dá-se mil e uma volta
Seja ou não a remar
Desde que o barco solta
O Mineiro:
Ganhar o pão é custoso
O mineiro não tem par
Rebentando a dura pedra
Só ar quente e humidoso
O mineiro não tem par
Ganhar o pão é custoso
O Lenhador:
Arrancada uma azinheira
Tem trabalhos a dobrar
Picar galhos serrar toros
Pró abegão e lareira
Tem trabalhos a dobrar
Arrancada uma azinheira
O Pescador:
Igual aos pombos-correios
Tenho de me orientar
Seja de noite ou de dia
Às vezes com mil rodeios
Tenho de me orientar
Igual aos pombos-correios
O Mineiro:
A mina é uma masmorra
Condenado pra ganhar
O pão do dia-a-dia
Estou eu até que morra
Condenado pra ganhar
A mina é uma masmorra
O Lenhador:
Quase não ganho prà roupa
Sujo estou por mais lavar
Os lenhos tudo me rompem
Sabendo que tenho pouca
Sujo estou por mais lavar
Quase não ganho prà roupa
O Pescador:
Chega de lamentações
Só já nos falta chorar
Falando das nossas vidas
Sem ver causas nem razões
Só já nos falta chorar
Chega de lamentações
O Mineiro:
A causa está à flor
Nem é preciso pensar
É o poder explorando
Sem justiça nem amor
Nem é preciso pensar
A causa está à flor
...
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Manuel João Manços
"Pão de amargura comido
é mel n'alma deprimida
Nunca te dês por vencido
por sofrer muito na vida
Tens de soltar um grito
um grito de alerta,
nesta província deserta
de terras abandonadas:
-Acabem com as coutadas!"
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Eugénio de Andrade
Alentejo
Agonia
dos lentos inquietos
amarelos,
solidão do vermelho
sufocado,
por fim o negro,
fundo espesso,
como no Alentejo
o branco obstinado.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Eugénio de Andrade
A caminho de Beja
Chega ao fim o enlouquecido
amarelo dos girassois;
chega ao fim extenuado.
Só o branco,
o branco enraivecido
da cal.continua a sangrar
nos flancos - como um toiro ferido.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Manuel Gonçalves
Meu irmão semeador
Lembram Deus os gestos teus:
Semeias pão, com amor,
Eles, as estrelas dos céus...
(-Bendito seja o suor
Que de um homem faz um deus!)
*
Fosse eu ditador um dia,
Mas que bem que governava!
Pobre ou rico só comia
Do pão que em paz amassava.
(-Mas que bela tirania,
Nunca o povo a derrubava!)
*
Trouxe-me a fome à cidade
Mas quero ir morrer na aldeia
Antes que aperte a saudade
E me mate em terra alheia.
(-Mais vale fome em liberdade
Que banquetes na cadeia!)
*
Só há sempre uma despedida
Se o regresso é sempre incerto,
Sempre, nos longes da vida,
Quem ama está sempre perto.
(-E há sempre esperança, escondida,
Nas miragens do deserto!)
Estas cantiguinhas de quadra e meia são da autoria de Manuel Gonçalves, poeta do Baixo Alentejo, já falecido. São objecto de um artigo de João Honrado no seu livro Textos Alentejanos. É suposto que as cantiguinhas de quadra e meia deste autor estejam já publicadas em livro, pela Cooperativa Cultural Alentejana.
terça-feira, 3 de abril de 2012
António Aleixo
O Outro Jogo
Diz ele que não sei ler
Isso que tem? cá na aldeia
Não se arranjam dúzia e meia
Que saiba ler e escrever.
P'ra escolas não há bairrismo.
Não há amor nem dinheiro.
Porquê? porque estão primeiro
O futebol e o ciclismo!
Desporto e pedagogia
Se os juntassem, como irmãos,
Esse conjunto daria,
Verdadeiros cidadãos!
Assim, sem darem as mãos,
O que um faz, outro atrofia.
Da educação desportiva,
Que nos prepara pr'a vida,
fizeram luta renhida
Sem nada de educativa.
E o povo, espectador em altos gritos,
Provoca, gesticula, a direito e torto,
Crendo assim defender seus favoritos
Sem lhe importar saber o que é desporto.
Interessa é ganhar de qualquer maneira.
Enquanto em campo o dever se atropela,
Faz-se outro jogo lá na bilheteira,
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela.
Convém manter o Zé bem distraído
Enquanto ele se entrega à diversão,
Não pode ver por quantos é comido
E nem se importa que o comam, ou não.
E assim os ratos vão roendo o queijo
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto,
De vez em quando solta o seu bocejo,
Sem ter pr'a ceia nem pão, nem conduto.
Loulé, 1978
Diz ele que não sei ler
Isso que tem? cá na aldeia
Não se arranjam dúzia e meia
Que saiba ler e escrever.
P'ra escolas não há bairrismo.
Não há amor nem dinheiro.
Porquê? porque estão primeiro
O futebol e o ciclismo!
Desporto e pedagogia
Se os juntassem, como irmãos,
Esse conjunto daria,
Verdadeiros cidadãos!
Assim, sem darem as mãos,
O que um faz, outro atrofia.
Da educação desportiva,
Que nos prepara pr'a vida,
fizeram luta renhida
Sem nada de educativa.
E o povo, espectador em altos gritos,
Provoca, gesticula, a direito e torto,
Crendo assim defender seus favoritos
Sem lhe importar saber o que é desporto.
Interessa é ganhar de qualquer maneira.
Enquanto em campo o dever se atropela,
Faz-se outro jogo lá na bilheteira,
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela.
Convém manter o Zé bem distraído
Enquanto ele se entrega à diversão,
Não pode ver por quantos é comido
E nem se importa que o comam, ou não.
E assim os ratos vão roendo o queijo
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto,
De vez em quando solta o seu bocejo,
Sem ter pr'a ceia nem pão, nem conduto.
Loulé, 1978
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Ruy Belo
Na morte de Nicolau
José Maria Nicolau fugiu. Quem o apanha?
Nunca ele pedalou tanto como agora
Decerto vai chegar antes da hora
A etapa era decisiva e está ganha.
Ele que várias vezes deu a volta a Portugal
deu desta vez a volta a quê? Talvez à vida
A alguns anos já da primeira partida
fugiu. Tudo se torna agora mais real.
Que média fez num terreno tão mau
É tudo serra custa muito subi-la
Deixem que eu vista a camisola amarela
ao grande corredor José Maria Nicolau.
José Maria Nicolau fugiu. Quem o apanha?
Nunca ele pedalou tanto como agora
Decerto vai chegar antes da hora
A etapa era decisiva e está ganha.
Ele que várias vezes deu a volta a Portugal
deu desta vez a volta a quê? Talvez à vida
A alguns anos já da primeira partida
fugiu. Tudo se torna agora mais real.
Que média fez num terreno tão mau
É tudo serra custa muito subi-la
Deixem que eu vista a camisola amarela
ao grande corredor José Maria Nicolau.
domingo, 1 de abril de 2012
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