Um livre pensador para o sino
Oh! Sino da freguesia
Que estás sempre a badalar
Estás-me sempre atormentando
Nunca cessas de tocar.
És meu vizinho que aí estás
Exercendo o teu emprego
Perturbando o meu sossego
E o incómodo que tu me dás.
Não sei quem seja capaz
De acabar tal agonia.
Tinhas melhor serventia
Para andares mais corriqueiro
Se fosses feito em dinheiro
Oh! Sino da freguesia.
às vezes de madrugada
Tocas de teu alto trono,
Interrompendo meu sono
Com inferneira escusada.
Sino não serves para nada
Serves para me apoquentar.
Para me fazer levantar,
O teu toque era escusado
És um intrujão sagrado
Que estás sempre a badalar.
Se dobras sinais de rico,
Apoquenta-me o teu dobre
Se tocas sinais de pobre,
Mais apoquentado fico.
Os teus sons me mortificam
Sejam alegres ou chorando.
Cada vez que estás tocando
Na cabeça me dás choques
Com teus beatos toques
Para haver qualquer festinha,
Ou mesmo ofícios divinos
Escusava de haver sino
Bastava uma campainha.
Tocas pela manhãzinha
Tocas para me inportunar.
Tocas depois do jantar
Tocas de tarde e à noite
Para meu castigo e açoute
Nunca cessas de tocar.