sábado, 8 de janeiro de 2011

João Vaz Penetra

Alcunhas e Apelidos

Aqui nestas linhas vão
Alcunhas e apelidos
Dos vivos e falecidos
Da vila de Cabeção
Com toda a consideração
E respeito que merecem
Porque há nomes que não esquecem
E que devem ser lembrados
Vê-los aqui misturados
Até iguais nos parecem.

Rolas, Milheiras, Pardais
Cotovias, Gaviões
Há cá muitas gerações
Com os nomes de animais
São os filhos e os pais
Com estes nomes herdados
Passarinhos assustados
Com os Ratos e Ratões
Há Borregos e Leitões
Brancos, Ruivos e Rosados.

Courinhas, Litros Calados
Alfaces, Favas, Feijões
Também há muitos Bailões
E Canelas Doutorados
Há Chitas em vários lados
Carreiras por toda a parte
Também há muito Duarte
E ainda alguns Conichos
Carpelhos, Sapos e Bichos
Não se vê em qualquer parte.

Calixtos, Pinas Malhões
Pintos e Arrepiados
Nomes que hão-de ser lembrados
Como são os Barranhões
Condes, Bécos e Ganhões
Aleixos e Carrachichas
Alfuredas e Conichas
Motas, Pessoas e Prudêncios
Há Gaitas e Florêncios
Lagartos e Lagartixas.

Já cá houve um Cagarrana
Que Deus o tenha em descanso
Até o padre era Manso
Também cá temos Choupana
Houve o meu primo Cagana
Ramalhos, Ramos, Raminhos
Bainetas, Crocas, Mansinhos
Manaias, Cunhas, Catrouchos
Galegos, Miras e Mochos
Há Penetras e Rainhos.

Borreichos e Cravidões
Ainda temos bastantes
Muito menos do que dantes
Vão morrendo as gerações
O frio não escolhe estações
Há Geadas todo o ano
Bazinas e Bebiano
Há Velhotes e Tájolas
E Rufinos e Carolas,
Também há se não me engano

Ainda temos Pinguinhas
Nesta terra de bons vinhos
Vinagres e Moleirinhos
Fizeram boas farinhas
Torrados e Torradinhas
Com "torrão" de maravilhas
Que vem de mães e de filhas
Ou dos pais ou dos avós
Ainda há Canós
Calhaus, Cristetas, Guerrilhas.

Nesta vila de mistérios
Onde também há Dòbigos
Também há um Espeta-figos
Que é da raça dos Valérios
Muitos estão nos cemitérios
Ou aqui ou noutras partes
Serranos e Alfaiates
Há Rabichos e Cachuchos
Sem ter quartel há Galuchos
Carronhas, Pilas e Prates.

Mosteias, Russos, Silvérios
Também há muito Batata
E um Cabeça-de-Pata
Que é um dos casos mais sérios
Cortiços, Veredas, Quitérios
Arraiéis e Machadinhas
Leandros e Cabecinhas
Vitorinos e Guerreiros
Bàrrões, Teles e Salgueiros
Cabaços Pires e Faquinhas.

O Patála e o Furão
O Manelim, o Meijinhas
Cartaxos e Pázadinhas
Laradas, Melros, Carão
Um cantor que era Falcão
Pelintras, Canas e Putos
Eram espertos e astutos
Tinham boa condição
Em qualquer ocasião
Não eram fracos nem brutos.

Dordio, Matola, Clemente
Morreu o Manel da Vinha
E o Chico da Hortinha
O Cumpeixe e o Vicente
Um Feliz e um Dormente
Também há o Gasparinho
E houve muito Godinho
Mas só um é que era rico
Já me esquecia do Chico
E d'Amélia do Montinho.

Já cá tivemos os Louras
Artistas da concertina
A Pombala e a Balbina
Senhorinhas e Senhoras
O Margarido e os Estouras
Batata-Doce e Silveira
Manel Zé-Quinta-Feira
Também houve a Mari'Estina
A Pomba e a Carolina$
Que casou c'o Cafeteira.

Em tempos houve Charrelas
Qu'inda eram meus parentes
Já morreu o Simão Dentes
Mas há Dimas e Varelas
E até havia Grandelas
O Varandas e o Rosil
Camioneta e Parrachil
O Tarefa e Mâncio Brás
Nos meus tempos de rapaz
o J'aquim de Montargil.

Também temos cá os Genes
Um deles até é Tinto
Um Curto que era Jacinto
E Barbosas e Estevens
E estamos de Parabéns
Por ter tido um Papa-Vinho
Que não bebia sozinho
E foi p'ra outra cidade
Esperança e Felicidade
Também há neste cantinho.

É uma terra importante
Graças a Deus Nazareno
Tem um Grande e um Pequeno
Um Anão e um Gigante
S'isto não fosse bastante
Ainda há muito Coelho
Como não hei-de estar velho
Já lá está o Luís Mâncio
O Pôpa e o Bundâncio
O Latas e o Traguelho.

Badôfos, Lérias e Rentes
Farungas, Bogas, Casmarras
Terra de coisas tão raras
Com estes nomes diferentes
E quase todos são parentes
Mistura-se a geração
Aqui deixo a gratidão
Ao herói que era Mouquinho
E ao mestre João Godinho
Um poeta de eleição.

Há Gatos por todo o lado
Catapirras, Tabaréus
Chinelos e Calhabéus
Com Guitarras sem ter fado
Como o mundo está mudado
A coisa vai a estar preta
É verdade, não é trêta
Digo com muita emoção
Muitos nomes que aqui estão
Estão na Quinta do Larreta.

Do Renato e do Justino
Não há ninguém que se queixe
Do Barriguinha de Peixe
E mesmo do Laurentino
Quando eu era pequenino
Conheci a tia Inácia
A Berta e a Bonifácia
A Sapa e a Matelinhas
Havia o rei das mézinhas
O António João da Farmácia.

Se do trigo se faz pão
E do frio se faz neve
O Bigode do Pé-Leve
Dava m'essa sensação
Dignos de admiração
E dentro do mesmo tema
Vejam lá este dilema
O nosso amigo Teodoro
Ainda foi ao sonoro
C'o António do Cinema.

Houve o Zé Pedro da Estina
E o Chico da Cardosa
E o António da Rosa
Que era o pai da Sabina
Morava cá a Regina
O Balricha e o Rolheiro
E houve um que era barbeiro
Foi o meu primo Zé Vaz
Não posso deixar p'ra trás
O Hildebrando Caeiro.

Terra de muitos moinhos
Um moleiro que era Tostão
Havia o Chico Alpalhão
O Tábêra e o Dorinhos
O Troca e os Morgadinhos
E o Domingos Albardeiro
Também cá esteve o Rasteiro
Que não era má pessoa
E a Mari' de Lisboa
Que morava no Ribeiro.

A Ana Velha dos bolos
Umbelino e Ferrador
E também o Zé Leonor
Homens que não eram tolos
O Caçurra e os Carôlos
O Canhoto e o Zarôlho
O Magala e o Piolho
E houve um que já morreu
Bastante vinho bebeu
O Zé Maria Má-Olho.

O Manel Arrependido
O Potrinha e o Barrula
Também houve o Zé da Mula
Já há muito falecido
Assim não é conhecido
Nem tampouco os Farrajolas
São cordas d'outras violas
Que n'outros tempos havia
Como a Mari'de Pavia
E o Arranca Cacholas.

Há Cardosas e Cardoso
Bernardas e Alziras
Qualquer um "prega" mentiras
Mas há só um Mentiroso
Terra de muito manhoso
Mas não fazem desacatos
Tudo gente de bons tratos
Já lá vai o Possidónio
E o nosso Manel António
Qu'era Borreicho e era Matos.

conheci o Arranhado
Um maltês d'antigamente
Assustava toda a gente
Quando estava embriagado
Também deve ser lembrado
O Banha e o Carapeta
O Corisco e o Zé Baineta
E uma coisa fantástica
Temos a Mari'Escolástica
Qu'era filha do Marreta.
Inda guardo na memória
Como era a Mari'Flor
E não é nenhum favor
Meter aqui nesta história
O Manel da "Zedória"
E o meu primo Simão Mocho
Já lá vai o Zé Rabocho
E também há muitos anos
Havia cá dois Caetanos
Era um rico e um coxo.

Eufrásias e Carlotas
Rosárias e Albertinas
Luzias e Ludovinas
E houve a ti Mari'Botas
Inda se vêem as Motas
Com estas ninguém se zanga
E já deu a "trangamanga"
A um Mota amigo meu
E o mesmo aconteceu
À ti J'aquina Fandanga.

Havia o ti Simãozinho
O Ganhapo e o Gabriel
O meu tio Ezequiel
E um guarda que era Pretinho
Já seguiram o seu caminho
Mas temos cá o Pernica
O Claro e o Manica
Os Farrobas e Carrilhos
Vão-se os pais ficam os filhos
C'o tempo ninguém cá fica.

Houve tendeiros e ciganos
E também Anacletos
Lã-Brancas e Anicetos
Hoje temos os Paranos
E morreu há muitos anos
O velho Carpinteirinho
E a ti Mari'do Moinho
Os anos não sei ao certo
Nasceu cá o Felisberto
Qu'era um belo "rapazinho".

Não há mina e há Mineiro
Mas há Rochas nesta terra
Houve o Maurício da Guerra
Que deu o nome ao Terreiro
E um Almeida Sapateiro
E o Zé d'Ameixeira
Lopes, Barata e Vieira
Isto era gente mais fina
E o Simão da Umbelina
Morava ao pé do Teixeira.

Veio p'ra cá o Nassamonte
Que noutra banda morava
E a velha Luzia Brava
Também morava no monte
E quem vivia de fronte
do Firmino era o Gadanha
Havia gente com manha
Mas não era o ti Libório
Nem o Moreira nem o Inório
Nem nenhuma das Malarranha.

A Galinha tem Moela
A uva tem o engaço
Nós temos o Estardalhaço
O Bule e o Brezundela
O Aurélio e o Gabriela
O Bem-Haja e o Monteiro
Matias que era Padeiro
Era o pai da Guilhermina
Há Rosas e Rosalina
O Dádaia e o Caseiro.
Esta história custa a crer
A d'um homem certo dia
Como não se decidia
Que nome havia de ser
"prantou-lhe" "Zé-Até-Ver"
E como isto não é pouco
Também cá houve o Batouco
Casado com a Godinha
E às vezes também cá vinha
Um de Mora qu'era Mouco.

(continua proximamente...)

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