sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Joaquim Vicente Vedor Paulino

Desencanto

Pelas ruas deambulando
vejo pessoas chorando,
por um pedaço de pão.
O povo sofre baixinho,
sempre à espera de um carinho,
que lhe alegre o coração.

Lá em cima no "poder"
ninguém vê o seu sofrer
e nem a sua aflição.
Vivem orgias secretas
e as suas descobertas
na mesa não põem pão.

Vejo olhares desencantados,
passos incertos, desordenados,
que o chão tenta acarinhar.
Alguns, com almas feridas,
põem termo às suas Vidas,
para assim as melhorar.

Tantas promessas falhadas,
tantas frases decoradas,
tantos discursos perdidos.
Nos olhos já não há esperança
e nem sequer a bonança,
dos bons tempos esquecidos.

O povo é manipulado,
dócilmente bajulado,
em tempo de eleições.
Mas as coisas pouco mudam
e as promessas se desnudam,
em consequentes leilões.

Nas suas leviandades,
vendem-se identidades,
assegurando o poder.
Tudo fazem por dinheiro
e este nosso povo ordeiro
que não pára de sofrer.

Talvez um dia, quem sabe,
o nosso tormento acabe
na mais bonita ilusão
e o povo possa acordar,
para assim poder cantar,
uma bonita canção.

(Este poema, editado em 1997, está hoje pleno de actualidade!)

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