segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Jacinto José Carlos Guerreiro
Sem Palavras
Olhai aquele menino
Remexendo o dia inteiro
Na lixeira da cidade
Resignado a vil destino
Traz p'la mão o companheiro
Um irmão de tenra idade
Para aqui e para acolá
E apanha do negro chão
Restos do que alguém comeu
Lembra-se da mãe que está
Dentro de um negro caixão
E o pai nunca o conheceu
Toca o sino, é Natal
Chega a hora do sermão
Trocam-se prendas e gestos
Mas, dentro do mundo real
Existem milhões de irmãos
Esperando por alguns restos
Olhai aquele menino
Remexendo o dia inteiro
Na lixeira da cidade
Resignado a vil destino
Traz p'la mão o companheiro
Um irmão de tenra idade
Para aqui e para acolá
E apanha do negro chão
Restos do que alguém comeu
Lembra-se da mãe que está
Dentro de um negro caixão
E o pai nunca o conheceu
Toca o sino, é Natal
Chega a hora do sermão
Trocam-se prendas e gestos
Mas, dentro do mundo real
Existem milhões de irmãos
Esperando por alguns restos
domingo, 28 de novembro de 2010
Jacinto José Carlos Guerreiro
Quadras ao verso
Na linguagem popular
o verso é por excelência
certa forma de falar
com verdade e com decência
Bate duro se é preciso
ternurento no amor
é profundo é conciso
provoca frio e calor
Tantas vezes perseguido
por gente de cariz diferente
o nosso verso conseguido
sai sempre dentro da gente
Mas, depois de tanto passar
nos caminhos da vivência
em linguagem popular
é senhor por excelência
Na linguagem popular
o verso é por excelência
certa forma de falar
com verdade e com decência
Bate duro se é preciso
ternurento no amor
é profundo é conciso
provoca frio e calor
Tantas vezes perseguido
por gente de cariz diferente
o nosso verso conseguido
sai sempre dentro da gente
Mas, depois de tanto passar
nos caminhos da vivência
em linguagem popular
é senhor por excelência
O Jacinto Guerreiro (Metalúrgico de corpo e tempo inteiro mas de:/Metal não vil/E duro aço/De partos mil/E algum cansaço/Do resto das coisas sei que fiz, mas já não me lembro quando.) é natural de Aivados, distrito de Beja, onde nasceu em 1949, mas reside na Baixa da Banheira desde tenra idade. Sempre tem estado envolvido na vida associativa banheirense e deu já o seu contributo como eleito do Poder Local.
sábado, 27 de novembro de 2010
Jacinto José Carlos Guerreiro
Diferenças
Diferente é o preto o branco o vermelho
É aquele menino que não vai à escola
Diferente é o conceito com que o escaravelho
Rebola feliz de merda uma bola
Diferente é o sal e o sonso
E é toda a gente que não verga a servil
Diferente é o poente e as cantigas de Afonso
Os versos e a prosa de Alexandre O'Neil
Diferente é o homem que ama a verdade
E em poucas palavras diz tudo o que sente
Diferente é falar com sinceridade
E no passeio dos tristes saber ser diferente
Diferente é o preto o branco o vermelho
É aquele menino que não vai à escola
Diferente é o conceito com que o escaravelho
Rebola feliz de merda uma bola
Diferente é o sal e o sonso
E é toda a gente que não verga a servil
Diferente é o poente e as cantigas de Afonso
Os versos e a prosa de Alexandre O'Neil
Diferente é o homem que ama a verdade
E em poucas palavras diz tudo o que sente
Diferente é falar com sinceridade
E no passeio dos tristes saber ser diferente
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Isidoro Matias
(Auto-Biografia)
Não sei onde irei parar
Como é triste o meu passado
Levei a vida a lutar
Sinto-me velho cansado
Nasci com pouca sorte
Destino tão malfadado
Caminho acidentado
Valendo apenas meu porte
Rondou por mim a morte
Que só me quis dominar
Tudo fazendo p'ra me levar
Sem o menor sentimento
Não sei onde irei parar
Minha vida atormentada
Não tinha qualquer sentido
Sentia-me até perdido
Julgando nunca ser nada
Como a vida é recheada
De sofrimento, desagrado
Por vezes abandonado
Farto sim, de só sofrer
Que hoje só resta dizer
Como é triste o meu passado
Como é triste o meu passado
Vivi sempre na pobreza
Nos tempos da mocidade
Não me deixando saudade
Essa vida de incerteza
Porque a própria natureza
Minha inimiga sem par
Tanto me fez penar
Com suas fantasias
Que para ter melhores dias
Levei a vida a lutar
Já dei o que tinha a dar
Do meu corpo, minha alma
Tudo fazendo com calma
Enquanto por cá andar
Porque não queria abalar
Sem que ficasse vincado
O quanto fui dedicado
Ao dom da natureza
Que me deu esta incerteza
Sinto-me velho e cansado
Sinto-me velho e cansado
Não sei onde irei parar
Como é triste o meu passado
Levei a vida a lutar
Sinto-me velho cansado
Nasci com pouca sorte
Destino tão malfadado
Caminho acidentado
Valendo apenas meu porte
Rondou por mim a morte
Que só me quis dominar
Tudo fazendo p'ra me levar
Sem o menor sentimento
Não sei onde irei parar
Minha vida atormentada
Não tinha qualquer sentido
Sentia-me até perdido
Julgando nunca ser nada
Como a vida é recheada
De sofrimento, desagrado
Por vezes abandonado
Farto sim, de só sofrer
Que hoje só resta dizer
Como é triste o meu passado
Como é triste o meu passado
Vivi sempre na pobreza
Nos tempos da mocidade
Não me deixando saudade
Essa vida de incerteza
Porque a própria natureza
Minha inimiga sem par
Tanto me fez penar
Com suas fantasias
Que para ter melhores dias
Levei a vida a lutar
Já dei o que tinha a dar
Do meu corpo, minha alma
Tudo fazendo com calma
Enquanto por cá andar
Porque não queria abalar
Sem que ficasse vincado
O quanto fui dedicado
Ao dom da natureza
Que me deu esta incerteza
Sinto-me velho e cansado
Sinto-me velho e cansado
Isidoro Matias, natural de Santiago do Cacém, nasceu em 1921. Por razões de trabalho, fixou-se na Baixa da Banheira em 1942, onde constituiu família.Foi trabalhador da construção civil, da construção naval, operário da CUF e operário corticeiro.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Isidoro Matias
Duas meninas
Tenho duas meninas,
São razão do meu viver
Mesmo sendo traquinas,
Eu não as quero perder
Sem elas nada sou
Sendo sim um amigo
P'ra qualquer lado que vou,
Elas vão sempre comigo
São meus dois amores,
Eu amo qualquer delas
São duas lindas flores,
Não sei viver sem elas.
Guiam meu sentido,
São fortes nossos laços
Guiam meu pensamento,
Até mesmo meus passos
Não usam por "condão"
Vestir, com ou sem folhos
Pois essas meninas
As meninas dos meus olhos.
Tenho duas meninas,
São razão do meu viver
Mesmo sendo traquinas,
Eu não as quero perder
Sem elas nada sou
Sendo sim um amigo
P'ra qualquer lado que vou,
Elas vão sempre comigo
São meus dois amores,
Eu amo qualquer delas
São duas lindas flores,
Não sei viver sem elas.
Guiam meu sentido,
São fortes nossos laços
Guiam meu pensamento,
Até mesmo meus passos
Não usam por "condão"
Vestir, com ou sem folhos
Pois essas meninas
As meninas dos meus olhos.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
24 de Novembro - Greve Geral!
Hoje vou fazer um parênteses. Foi dia de Greve Geral, convocada contra os PEC's que vieram agravar ainda mais as condições de vida dos portugueses, que estão a ser obrigados a pagar uma crise provocada pelas elites, pela ganância do lucro e pelas desastradas políticas, em suma, provocada por aqueles que são cada vez mais ricos e vivem na opulência.
Mais de 3 milhões de trabalhadores fizeram a Greve Geral, contra o roubo dos salários, a retirada de prestações sociais (abono de família), a degradação do Serviço Nacional de Saúde (e aumentos brutais do preço dos medicamentos), do Ensino, etc, o congelamento de pensões e o aumento de impostos. Enquanto impõem tantos sacrifícios ao povo, aos que menos têm, mantêm e aprofundam as desigualdades gritantes, com a continuação de lucros de centenas de milhões, nomeadamente nos Bancos, e com uns quantos a auferirem ordenados, prémios e pensões milionários.
A Greve Geral valeu a pena - quem luta pode não ganhar no imediato, mas quem não luta perde sempre!
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Albertina Ribeiro dos Santos
Foi um sonho, ou um grito da minha alma?
Tive um sonho certo dia
Que bom fosse verdade
Mas foi pura fantasia
P'ra mal da humanidade!
Em todo o mundo findara a guerra
Todos dispunham do seu destino
Dançava-se em toda a terra
E cantava-se o mesmo hino!
Todos s'abravam num abraço profundo
E gritavam alegremente! Há paz em todo o mundo!
Ó! que alegria esta notícia nos trás!
Acabai senhores com tanta barbaridade!!
Para que este meu sonho seja realidade!
Amor, em vez de guerra, queremos viver em paz!
Tive um sonho certo dia
Que bom fosse verdade
Mas foi pura fantasia
P'ra mal da humanidade!
Em todo o mundo findara a guerra
Todos dispunham do seu destino
Dançava-se em toda a terra
E cantava-se o mesmo hino!
Todos s'abravam num abraço profundo
E gritavam alegremente! Há paz em todo o mundo!
Ó! que alegria esta notícia nos trás!
Acabai senhores com tanta barbaridade!!
Para que este meu sonho seja realidade!
Amor, em vez de guerra, queremos viver em paz!
Albertina Santos, reformada, ex técnica de análises clínicas dos Hospitais Civis de Lisboa, nasceu em 1924 e reside em Alhos Vedros, Moita.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Fernando Manuel dos Santos Silva
À Natividade
Teus olhos tristes teu rosto alegre
Teu corpo esguio coberto de amor
Sofreu eu sei, mas a vida é febre
Que sobe e desce e nasce a dor
Os anos passam o tempo é mestre
Os olhos rasos de lágrimas agrestes
O teu cabelo sedoso frio do tempo
Que nos traz alegria e o cruel momento
Sei lá o que penso, não posso acreditar
O que virá um dia, não quero pensar
E como o fumo disperso no ar
Não é tarde nem é cedo, resta esperar.
Teus olhos tristes teu rosto alegre
Teu corpo esguio coberto de amor
Sofreu eu sei, mas a vida é febre
Que sobe e desce e nasce a dor
Os anos passam o tempo é mestre
Os olhos rasos de lágrimas agrestes
O teu cabelo sedoso frio do tempo
Que nos traz alegria e o cruel momento
Sei lá o que penso, não posso acreditar
O que virá um dia, não quero pensar
E como o fumo disperso no ar
Não é tarde nem é cedo, resta esperar.
O Fernando Silva é natural da Gafanha da Nazaré, tendo-se fixado na Baixa da Banheira, após regressar da guerra colonial. Integrou-se na vida local, nomeadamente no Movimento Associativo, que nesta terra sempre foi pujante e diversificado.
domingo, 21 de novembro de 2010
Centenário da República
Limpar o que não sujei
É pedido original
A atender eu não sei
Assim, limitar-me-ei
A deixar este local
Tal como, ao entrar, o achei
É pedido original
A atender eu não sei
Assim, limitar-me-ei
A deixar este local
Tal como, ao entrar, o achei
Alvores da República! Estava-se no ano de 1908. Este exemplo, enquadrava-se na regulamentação da actividade hoteleira, era destinado a afixação nas casas de banho dos hotéis. Que, na época, em todo o país se podiam contar pelos dedos e sobravam dedos... Todavia, já se desenvolviam esforços para desenvolver esta actividade, fomentando o gosto por viajar, apesar da inexistência de infra-estruturas - não havia estradas de jeito, o caminho de ferro não chegava a todo o lado (e hoje, cada vez chega a menos lados!). Ainda antes da implantação da República, foi criada a SPP - Sociedade da Propaganda de Portugal, e em 1911 é criada a Repartição do Turismo. O papel destas duas entidades era não só o desenvolvimento da indústria do turismo, mas também estimular os hábitos higiénicos da população.
Isto que acabo de referir, decorre de hoje ter dedicado a tarde a visitar duas exposições dedicadas ao Centenário da República. E não dei o tempo por mal empregado.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
José Casimiro Tavares
Bem prega Frei Tomás
No café, rua ou viela,
censura-se esta e aquela
por terem muitos amores;
mas... nós homens, quando calha,
também temos nossas falhas, também somos pecadores...
Quando passa uma morena
bonita, que valha a pena
contemplar seus finos traços,
sentimos no coração
uma enorme ambição
de apertá-la em nossos braços!...
Mesmo que seja uma loira
'spampanante, logo estoira
em nós onda de desejos:
e ao vê-la assim tão bela,
doidos olhamos p'ra ela,
q'rendo cobri-la de beijos!...
P'lo que eu contei, p'lo que disse,
decerto não é tolice
o que aqui vou perguntar:
Para quê pregar moral,
se nós todos afinal
'stamos prontos a pecar?...
No café, rua ou viela,
censura-se esta e aquela
por terem muitos amores;
mas... nós homens, quando calha,
também temos nossas falhas, também somos pecadores...
Quando passa uma morena
bonita, que valha a pena
contemplar seus finos traços,
sentimos no coração
uma enorme ambição
de apertá-la em nossos braços!...
Mesmo que seja uma loira
'spampanante, logo estoira
em nós onda de desejos:
e ao vê-la assim tão bela,
doidos olhamos p'ra ela,
q'rendo cobri-la de beijos!...
P'lo que eu contei, p'lo que disse,
decerto não é tolice
o que aqui vou perguntar:
Para quê pregar moral,
se nós todos afinal
'stamos prontos a pecar?...
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
José Casimiro Tavares
Eu e o Fado
Amo o fado, e não disfarço
este amor, este meu q'rer:
por cada fado que faço
mais me apetece escrever!
Sei bem que não tenho voz,
que ao cantar não satisfaço;
no entanto, aqui p'ra nós,
Amo o fado, e não disfarço.
Minha voz não enternece
- o que é fácil d'entender;
mas toda a gente conhece
Este amor, este meu q'rer
Amigos, atenção tomem
(pois penso que não vos maço):
até me sinto mais jovem,
Por cada fado que faço...
Sei que as pessoas aguardam
os meus fados com prazer
Se as minhas letras agradam,
Mais me apetece escrever!
Amo o fado, e não disfarço
este amor, este meu q'rer:
por cada fado que faço
mais me apetece escrever!
Sei bem que não tenho voz,
que ao cantar não satisfaço;
no entanto, aqui p'ra nós,
Amo o fado, e não disfarço.
Minha voz não enternece
- o que é fácil d'entender;
mas toda a gente conhece
Este amor, este meu q'rer
Amigos, atenção tomem
(pois penso que não vos maço):
até me sinto mais jovem,
Por cada fado que faço...
Sei que as pessoas aguardam
os meus fados com prazer
Se as minhas letras agradam,
Mais me apetece escrever!
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
José Casimiro Tavares
Eu e a Moita
(musicado por Ismael Ferreira Rocha)
Eu vou cantar afinal
a todos que estão aqui:
Sou de Sines natural
pois foi lá onde eu nasci
Mas muito nova cheguei
a esta Moita, é de ver:
Foi aqui que me criei
nela me tornei mulher.
Coro: A Moita é linda,
linda linda, de verdade;
que um dia chegue a cidade,
é nossa grande ambição.
A Moita é linda, e o meu desejo
é dar-lhe enfim longo beijo
do fundo do coração!
Esta Moita, que é tão boa,
decerto não tem igual,
fica em frente de Lisboa,
que é a nossa capital
Em Setembro - que loucura!
Sua festa é de espantar:
Toda a gente aqui procura
cantar, dançar e... rezar!
(musicado por Ismael Ferreira Rocha)
Eu vou cantar afinal
a todos que estão aqui:
Sou de Sines natural
pois foi lá onde eu nasci
Mas muito nova cheguei
a esta Moita, é de ver:
Foi aqui que me criei
nela me tornei mulher.
Coro: A Moita é linda,
linda linda, de verdade;
que um dia chegue a cidade,
é nossa grande ambição.
A Moita é linda, e o meu desejo
é dar-lhe enfim longo beijo
do fundo do coração!
Esta Moita, que é tão boa,
decerto não tem igual,
fica em frente de Lisboa,
que é a nossa capital
Em Setembro - que loucura!
Sua festa é de espantar:
Toda a gente aqui procura
cantar, dançar e... rezar!
Tive o privilégio de conhecer o José Casimiro - participamos em várias reuniões, nomeadamente, naquela em que foi escolhido para encabeçar a lista, em que seria eleito Presidente da Junta de Freguesia de Moita, nas primeiras eleições autárquicas após o 25 de Abril. Era um homem solidário e fraterno. Faleceu em 1990 com 72 anos. Barbeiro de profissão, era, para além de poeta, músico autodidacta e, por isso, muita da sua poesia foi e continua a ser cantada por fadistas. Em "A minha mocidade", poema profundamente autobiográfico, conta-nos a sua atribulada infância.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
José Casimiro Tavares
A Minha Mocidade
(fado Laranjeiras, Alexandrino)
A minha mocidade, inda me lembro bem
do muito que passei, daquilo que sofri:
aos quatro anos d'idade eu perdi minha mãe,
um bem que não tem par - devo dizê-lo aqui
Meu pai deixou-me logo entregue a meus avós,
aos pais da minha mãe, bastante pobrezinhos.
com outra se casou; e, algum tempo após,
nunca mais me prestou conforto e carinhos.
A passo co'a miséria, eu tive de crescer,
sentindo bem na carne o que era sofrimento:
andei ao "trapo", ao "osso", à "gandaia", é de ver,
p'ra não morrer de fome, esse grande tormento.
Enquanto me faltava o que era necessário,
os outros meus irmãos, porém de pai, somente,
tinham tudo a fartar no seu viver diário,
e eu - pobre de mim! tornado um indigente.
Hoje, velhote já, desejo recordar
meus defuntos avós, tão queridos coitadinhos:
por mim passaram mal, grande foi seu penar,
mas tinham p'ra me dar seus beijos e carinhos...
(fado Laranjeiras, Alexandrino)
A minha mocidade, inda me lembro bem
do muito que passei, daquilo que sofri:
aos quatro anos d'idade eu perdi minha mãe,
um bem que não tem par - devo dizê-lo aqui
Meu pai deixou-me logo entregue a meus avós,
aos pais da minha mãe, bastante pobrezinhos.
com outra se casou; e, algum tempo após,
nunca mais me prestou conforto e carinhos.
A passo co'a miséria, eu tive de crescer,
sentindo bem na carne o que era sofrimento:
andei ao "trapo", ao "osso", à "gandaia", é de ver,
p'ra não morrer de fome, esse grande tormento.
Enquanto me faltava o que era necessário,
os outros meus irmãos, porém de pai, somente,
tinham tudo a fartar no seu viver diário,
e eu - pobre de mim! tornado um indigente.
Hoje, velhote já, desejo recordar
meus defuntos avós, tão queridos coitadinhos:
por mim passaram mal, grande foi seu penar,
mas tinham p'ra me dar seus beijos e carinhos...
Poetas Nossos Munícipes, é uma colectânea de poesia de quarenta autores, naturais e ou residentes no Concelho de Moita. Obra que, embora apresentada como "recolha de poemas dos nossos poetas populares", reúne autores de vários estilos e sensibilidades. Vamos divulgar aqui alguns desses poetas, tendo começado com o Adriano Encarnação.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Adriano Manuel Soares da Encarnação
O cozinheiro
Põe a panela
no fogão
as batatas
o feijão
Agora um pouco de sal
tudo com bom
paladar
que o cliente
é exigente
Na fábrica já é diferente
é comer
p'ra muita gente
aí os pratos são vários
é comer
p'ra mil operários
que como ele a trabalhar
precisam de almoçar
E o mestre cozinheiro
em grandes panelões
vai fazendo
as refeições
alagado em suor
do calor
dos seus fogões
Põe a panela
no fogão
as batatas
o feijão
Agora um pouco de sal
tudo com bom
paladar
que o cliente
é exigente
Na fábrica já é diferente
é comer
p'ra muita gente
aí os pratos são vários
é comer
p'ra mil operários
que como ele a trabalhar
precisam de almoçar
E o mestre cozinheiro
em grandes panelões
vai fazendo
as refeições
alagado em suor
do calor
dos seus fogões
Conheci o Adriano e a Irene em 1974. Desconhecia a sua faceta de poeta. Foi uma agradável surpresa deparar com ele em Poetas nossos munícipes, uma edição da Câmara Municipal da Moita.
Alentejano, de Viana do Alentejo, onde nasceu em 1949, e bancário de profissão, é um banheirense civicamente empenhado. É um activista do Movimento Associativo local. É cultor de várias artes, para além da poesia, intervêm na música, na pintura, na gravura e na escultura.
domingo, 14 de novembro de 2010
Adriano Manuel Soares da Encarnação
A excelência
Digníssima excelência
Mas que pessoa
tão fina
e que lindo par
que faz
com a ave de rapina
E o senhor
concerteza
que tem muito
em que pensar
como vai ganhar dinheiro
sem ter que trabalhar
O ferreiro a trabalhar
e o senhor a passear
trabalha a mulher a dias
e a senhora nas folias
como nada querem fazer
vamos pô-los a mexer
Digníssima excelência
Mas que pessoa
tão fina
e que lindo par
que faz
com a ave de rapina
E o senhor
concerteza
que tem muito
em que pensar
como vai ganhar dinheiro
sem ter que trabalhar
O ferreiro a trabalhar
e o senhor a passear
trabalha a mulher a dias
e a senhora nas folias
como nada querem fazer
vamos pô-los a mexer
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
"Crónica dos nossos dias"
Sócrates com sua tia
Contra conquistas da revolução
Todos vêem e ele não via
O Coelho mete a mão
1º. ministro enxovalhado
Ninguém inventa maldades
Este "inocente" malvado
Faz das mentiras verdades
Geração de rapazinhos
Da geração do passado
Erguem o seu focinho
Com patronato apoiado
Pedro passos é coelho
Espreita na sua toca
Vai vendo no seu espelho
Afinando a sua moca
Direita e alternativa
Mais do mesmo para prosseguir
Com a sua comitiva
Fazem contas estão se a rir
Se não fossem os sindicalistas
Estávamos mais atrasados
Os direitos progressistas
Eles já tinham acabado
Democracia onde é que estás
Com tua justiça social
Com a política de direita levarás
Para o fundo o nosso Portugal
Empresas que dão lucros
Devem ficar no Estado
Da revolução são frutos
Não pode ser acabado
Enganando Portugal inteiro
Com tanta precariedade
Camarada, companheiro
Onde está a igualdade?
Os políticos que governaram
Devem ser excluídos
Com provas eles já falharam
Vem mudar noutros sentidos
Na vida há direitos
Que outros querem roubar
Ficaremos nestes guetos
Não podemos descuidar
Levemos o país para a frente
Com programa constitucional
Com o povo e nossa gente
Vamos mudar Portugal
Este poema, de autor não identificado, tem a data de 29/09/2010, está impresso num folheto A4 e, tudo o indica, foi distribuído pelo autor, à boa maneira antiga.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Parideira, de autor desconhecido
Nas abas de tanta vida,
a parideira se abriu.
Em tantos cais de partida,
Que tantas vidas descobriu.
a parideira se abriu.
Em tantos cais de partida,
Que tantas vidas descobriu.
Nesta quadra a parideira referida, é um assento, cuja função era, uma vez nela sentada a mulher à beira de parir, facilitar o acto de dar à luz. Esta prática é dos tempos em que se nascia em casa, com a ajuda de uma curiosa, uma "comadre".
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Arnaldo Malho
O ferro é a minha vida,
Do nosso ser já faz parte;
Do ferro se fazem jóias
Se forem feitas com arte
Se tivesse duas vidas,
Voltaria a ser ferreiro,
Para dar vida ao ferro
Mais por gosto que dinheiro
Do nosso ser já faz parte;
Do ferro se fazem jóias
Se forem feitas com arte
Se tivesse duas vidas,
Voltaria a ser ferreiro,
Para dar vida ao ferro
Mais por gosto que dinheiro
Arnaldo Malho, o poeta ferreiro, nasceu em Viseu no ano de 1880 e faleceu em 1960. Como nas duas quadras se antevê, era ferreiro de profissão. Um refinado artista na arte de trabalhar o ferro, tendo chegado a mestre na Escola Industrial de Viseu.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Idalia Maria Costa Amaro
Em criança fui feliz
Cheia de sonhos e magia
Via tudo cor de rosa
No meio da fantasia.
E para fazer milagres
De ser fada eu gostava
Como nos contos tão belos
Que minha mãe me contava.
Sonhava viver num castelo
Vestida de seda e arminhos
E possuir muito dinheiro
Para dar aos pobrezinhos.
Tinha pena dos velhinhos
Com fome e a tiritar
Era sempre a fada boa
Que os ia consolar.
E via as criancinhas
Estenderem-me os bracinhos
Eu chamava-os para mim
E enchias-os de carinho.
E é agora que eu sei
Como é dura a realidade
Os sonhos que eu sonhei
Estão muito longe da verdade.
Cheia de sonhos e magia
Via tudo cor de rosa
No meio da fantasia.
E para fazer milagres
De ser fada eu gostava
Como nos contos tão belos
Que minha mãe me contava.
Sonhava viver num castelo
Vestida de seda e arminhos
E possuir muito dinheiro
Para dar aos pobrezinhos.
Tinha pena dos velhinhos
Com fome e a tiritar
Era sempre a fada boa
Que os ia consolar.
E via as criancinhas
Estenderem-me os bracinhos
Eu chamava-os para mim
E enchias-os de carinho.
E é agora que eu sei
Como é dura a realidade
Os sonhos que eu sonhei
Estão muito longe da verdade.
sábado, 6 de novembro de 2010
Idália Maria Costa Amaro
Quadras soltas
Eu dou a vida à poesia
E ela me faz viver
Eu sem ela não vivia
Ela m'obriga a escrever.
Meu coração vai ditando
Tudo o que a caneta escreve
As tristezas vão passando
Coração ficas mais leve.
Se há momentos d'alegria
Ainda há mais inspiração
P'ra escrever a poesia
Que trago no coração.
É pobre, não tem valor
Esta minha poesia
Mas é feita com amor
E dá-me muita alegria.
E quando a ouço ler
Na doce vózinha da Guida
É magia podem crer
Há poesia na vida.
Eu dou a vida à poesia
E ela me faz viver
Eu sem ela não vivia
Ela m'obriga a escrever.
Meu coração vai ditando
Tudo o que a caneta escreve
As tristezas vão passando
Coração ficas mais leve.
Se há momentos d'alegria
Ainda há mais inspiração
P'ra escrever a poesia
Que trago no coração.
É pobre, não tem valor
Esta minha poesia
Mas é feita com amor
E dá-me muita alegria.
E quando a ouço ler
Na doce vózinha da Guida
É magia podem crer
Há poesia na vida.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Idália Maria Costa Amaro
O Carnaval
Carnaval dos bailaricos
Folgazão e engraçado
Porque vens todos os anos
Se no fim és sepultado.
Trazes máscaras de mil cores
Imitas bichos e humanos
Porque vens tão divertido
Se morres todos os anos?
És um dia desejado
Por toda a rapaziada
Ouve-se o rebentar das bombas
Ao raiar a madrugada.
Dos outros dias diferente
És malandro e atrevido
Fazes e dizes coisas
Que nos outros é proibido.
Pulas saltas folgazão
Dizes gracinhas brejeiras
E não fazem distinção
As casadas das solteiras.
Mas se eu não me engano
Como isto vai a andar
Passamos todo o ano
Ao Carnaval a brincar.
Carnaval dos bailaricos
Folgazão e engraçado
Porque vens todos os anos
Se no fim és sepultado.
Trazes máscaras de mil cores
Imitas bichos e humanos
Porque vens tão divertido
Se morres todos os anos?
És um dia desejado
Por toda a rapaziada
Ouve-se o rebentar das bombas
Ao raiar a madrugada.
Dos outros dias diferente
És malandro e atrevido
Fazes e dizes coisas
Que nos outros é proibido.
Pulas saltas folgazão
Dizes gracinhas brejeiras
E não fazem distinção
As casadas das solteiras.
Mas se eu não me engano
Como isto vai a andar
Passamos todo o ano
Ao Carnaval a brincar.
A D. Idália, reuniu no livro O Meu Alentejo, edição da autora, alguma da sua poesia anteriormente divulgada em jornais e rádios locais. Dela, apenas sei que nasceu em Messejana e foi residir em Panoias, que, por isso, é a sua segunda terra.
Aldrabas e batentes
E na falta do batente original (que servia tb de puxador), eis como um morador de Setúbal - Av. Luisa Todi - resolveu a situação: Uns pedaços de corda entrançados, e está no lugar do batente um puxador original!
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Idália Maria Costa Amaro
Esta vila onde eu moro
É antiga e pobrezinha
Mesmo assim eu a adoro
Tenho cá minha casinha
Só há casas pequeninas
Palácios ricos não tem
Mas estão muito branquinhas
Até ao longe ficam bem
E a minha casa que fica
Aqui no largo do terreiro
Onde há uma igreja bonita
São Pedro é o padroeiro
Tem muitas árvores verdinhas
Que nos dão sombra e abrigo
Um parque p'ras criancinhas
E o clube desportivo
Tem um fontanário a meio
E muita relva em canteiro
E também tem o correio
Aqui no largo do Terreiro
Também tem campo da bola
No concelho não há igual
E uma bonita escola
Com três salas a funcionar
Tem Casa do Povo e salão
P'ros novos se divertir
Cafés e supermercado
E um lindo pronto a vestir
Tem um posto de saúde
Com uma equipe muito unida
Com médico e enfermeira
E funcionária administrativa.
Ora aqui está uma crónica que descreve, quase ao pormenor, a Vila de Panoias!
É antiga e pobrezinha
Mesmo assim eu a adoro
Tenho cá minha casinha
Só há casas pequeninas
Palácios ricos não tem
Mas estão muito branquinhas
Até ao longe ficam bem
E a minha casa que fica
Aqui no largo do terreiro
Onde há uma igreja bonita
São Pedro é o padroeiro
Tem muitas árvores verdinhas
Que nos dão sombra e abrigo
Um parque p'ras criancinhas
E o clube desportivo
Tem um fontanário a meio
E muita relva em canteiro
E também tem o correio
Aqui no largo do Terreiro
Também tem campo da bola
No concelho não há igual
E uma bonita escola
Com três salas a funcionar
Tem Casa do Povo e salão
P'ros novos se divertir
Cafés e supermercado
E um lindo pronto a vestir
Tem um posto de saúde
Com uma equipe muito unida
Com médico e enfermeira
E funcionária administrativa.
Ora aqui está uma crónica que descreve, quase ao pormenor, a Vila de Panoias!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Aldrabas e batentes
Zé Serra, de Messejana
Eu não sei que lei é esta
Que inventou o Salazar
Uns ganham dinheiro cantando
Eu fui preso por cantar.
Amigos de copos de vinho
Só duram enquanto há dinheiro
Meu amigo é o Ernestinho
Que me abriga no palheiro.
Aos domingos na taberna
Tenho amigos de sobejo
Em se acabando o dinheiro
Vou olhar já não os vejo.
Que inventou o Salazar
Uns ganham dinheiro cantando
Eu fui preso por cantar.
O Ti Zé Serra é identificado como camponês que só raramente se deslocava à vila, mas quando o fazia, a visita durava vários dias, enquanto o dinheiro durasse e de bebedeira permanente. Esta quadra foi cantada após ser resgatado por um amigo, do posto da GNR, para onde foi levado, tudo o indica, dada a chinfrineira do seu cantar... Ou talvez porque esses eram os tempos do Salazar...
Pelos vistos o álcool não o privava de utilizar as palavras com arte. Vejamos mais quadras que lhe são atribuídas:
Amigos de copos de vinho
Só duram enquanto há dinheiro
Meu amigo é o Ernestinho
Que me abriga no palheiro.
Aos domingos na taberna
Tenho amigos de sobejo
Em se acabando o dinheiro
Vou olhar já não os vejo.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A propósito dos comeres de Messejana
Baldoregas são sadias
Eu por mim não gosto delas
Em vendo moças bonitas
Não me posso apartar delas.
Eu por mim não gosto delas
Em vendo moças bonitas
Não me posso apartar delas.
Quem diz baldoregas, refere-se às beldroegas. Eu, habitualmente tb as nomeio por baldoregas, e ao contrário do autor da quadra (desconhecido) gosto bastante de sopa feita com elas.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
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