terça-feira, 16 de novembro de 2010

José Casimiro Tavares

A Minha Mocidade
(fado Laranjeiras, Alexandrino)

A minha mocidade, inda me lembro bem
do muito que passei, daquilo que sofri:
aos quatro anos d'idade eu perdi minha mãe,
um bem que não tem par - devo dizê-lo aqui

Meu pai deixou-me logo entregue a meus avós,
aos pais da minha mãe, bastante pobrezinhos.
com outra se casou; e, algum tempo após,
nunca mais me prestou conforto e carinhos.

A passo co'a miséria, eu tive de crescer,
sentindo bem na carne o que era sofrimento:
andei ao "trapo", ao "osso", à "gandaia", é de ver,
p'ra não morrer de fome, esse grande tormento.

Enquanto me faltava o que era necessário,
os outros meus irmãos, porém de pai, somente,
tinham tudo a fartar no seu viver diário,
e eu - pobre de mim! tornado um indigente.

Hoje, velhote já, desejo recordar
meus defuntos avós, tão queridos coitadinhos:
por mim passaram mal, grande foi seu penar,
mas tinham p'ra me dar seus beijos e carinhos...

Poetas Nossos Munícipes, é uma colectânea de poesia de quarenta autores, naturais e ou residentes no Concelho de Moita. Obra que, embora apresentada como "recolha de poemas dos nossos poetas populares", reúne autores de vários estilos e sensibilidades. Vamos divulgar aqui alguns desses poetas, tendo começado com o Adriano Encarnação.

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