terça-feira, 26 de outubro de 2010

Joaquim da Costa Velhinho

Isto de cantar é arte
Que Deus deu às criaturas
Quem não sabe tactêa
Como se estivesse às escuras.
 ...

O diabo te leve arado
E mais a mão que te fez!
Mais de cento e uma vez
Já te tenho excomungado!
Um homem com um machado,
Ahi de qualquer chamiço
Faz um arado inteiriço
Para um boi e p'ra uma vaca!...
Não lhe bonda andar d' estaca
E ainda é engasgadiço!...

Velhinho, de Messejana, era ganhão, morreu cerca de 1870. Sabia ler e mal escrever, mas era um bom fazedor de poesia.
O despique era uma tradição muito viva e praticado com frequência, mobilizando os poetas e cantadores dos mais recônditos lugares.
As  décimas que se seguem são disso um exemplo, em que Velhinho se confronta com o poeta Pôtra - Braz Martins Beirão, pastor, analfabeto, da vila de Cuba, que a Messejana se deslocou para despicar...

Fala o Velhinho:

Tenho casas assombradas
E de marfim são as telhas.
De bois tenho cem parelhas,
De éguas oitenta manadas,
E mil vacas afilhadas
Com uma linda criação,
Sou forte como Sansão
P'ra vencer toda a Turquia,
E tenho mais sabedoria
Do que teve Salomão.

Ao que Pôtra responde prontamente:

Dessa tua abonação
Muito me farto de rir!
Eu sempre semeei em Abril
Quatrocentos moios de pão -
-Não falando do temporão
Que foram eles dobrados!
Tenho oitenta mil cruzados
E herdades noventa mil!
Já é meu todo o Brazil!
Tenho em Hespanha cem morgados!

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