domingo, 17 de outubro de 2010

Modas alentejanas

A rama da oliveira
Deitada no lume estala
Assim é o meu coração
Quando contigo não fala.

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Azeitona miudinha
Também vai ao "alagar"
Também eu sou pequenina
Mas sou firme no amar

Oliveirinha da serra
O vento leva a flor
Óhi! óhai
Só a mim ninguém me leva
Óhi! óhai!
Para ao pé do meu amor.

-

Óh rama que linda rama
Óh rama da oliveira
O meu par é o mais lindo
Que anda aqui na roda inteira.

Que anda aqui na roda inteira
Aqui e em qualquer lugar
Óh rama óh que linda rama
Óh rama do olival.

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À entrada desta rua
Dei um ai, abriu-se o chão
Sepultaram-se as estrelas
Morreu o céu com paixão.

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Já se acabou a azeitona
Já se acabou o dinheiro
Vamos todos a dar vivas
Ao nosso patrão engenheiro.

Quando o sol nasce inclina
Na bandeira castelhana
Mais vale um dia de amor
Que a jorna de uma semana.

-

Meu amor por me deixar
Pensava que eu morria
Cada vez meu coração
Canta com mais alegria.

À minha porta está lama
À tua é um lameiro
Quando falares de mim
Olha para ti primeiro.

Diz-me lá se caso queres
Fazer as pazes comigo
Dá a mão à palmatória
Voltemos ao tempo antigo.

Esse teu dar à cabeça
causa-me admiração
Quando tens mosca de inverno
Que fará em vindo o verão.

-

Quem me dera que voltasse
O tempo da mocidade
Em que mesmo na miséria
Era feliz de verdade.

Por esse campos sem fim
Cantava com alegria
Mesmo trabalhando sempre
Do nascer ao pôr do dia.

Agora é tudo tão triste
Mesmo tendo vida boa
Que eu ao olhar para mim
Julgo-me outra pessoa.

Mas quando há ocasião
Ainda gosto de cantar
Gosto de me advertir
E o passado recordar.

-

Perguntei a uma mãe
Qual era a dor mais sentida
Se ter um filho na guerra
Ou uma filha na vida.

Essa mãe me respondeu
Em tom triste e amargurado
Para maior desgosto meu
Tenho um em cada lado.

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Não é o ceifar que custa,
Nem o rigor do Verão;
É o ladrão do macaco*
E o cardo beija-mão.

*Dor nas costas, provocada pela postura a que o corpo é forçado.

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Adeus oh! vila de Ourique
Já lá tens o que tu querias,
Já tens o Tribunal
À custa das freguesias.

Um homem nunca devia
A mocidade deixar
Nem nunca se fazer velho
Para não deixar de amar.

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Olha a República que já veio
fazer andar os homens todos num enleio,
Todos num enleio todos num leilão,
E Viva a República!... Viva a Nação!

Estas, são canções de trabalho - modas, no dizer alentejano - que eram cantadas nas safras da apanha da azeitona, das sementeiras, da monda, das ceifas, da debulha.Constam de um interessante texto publicado nos
Cadernos Culturais (nº. III), de Messejana. Modas que eram cantadas também no caminho para o trabalho ou para casa e nas adiafas.

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