sábado, 31 de dezembro de 2011

António Gedeão

Hoje, ao nascer do sol, de manhãzinha,
ouvi cantar um galo num quintal
quando eu tinha seis anos e fui passar as férias do Natal
com a minha madrinha.

(...)

Foi então que o tal galo cantou.
Loooooooge...
Muito loooooooge...
no quintal da vizinha,
lá para o fim do mundo mesmo ao lado da casa da minha madrinha.

(...)

Amália - Com que voz

Luís Camões - Alain Oulman

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

José Carlos Ary dos Santos

Erros nossos não são de toda a gente
Tropeçamos às vezes na entrega
Mas retomamos sempre a marcha em frente
Massa humana que nada desagrega.

Para nós o passado e o presente
São futuro no qual o povo pega
Com suas mãos de luz incandescente
Que aquece que deslumbra mas não cega.

Para nós não há tempo. O tempo é vento
Soprando ano após ano sobre a história
Que para nós é vida e não memória.

Por isso é que no tempo em movimento
Cada ano que passa é menos tempo
Para chegar ao tempo da vitória

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

E o povo pá?

Mahmoud Darwich

Confissão de um terrorista!

Ocuparam a minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista

Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista

Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista

Assassinaram minhas alegrias,
Sequestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries

Eles... mataram um terrorista!


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

0 Calafate e a implantação da República

Ao longo do ano de 2011 tiveram lugar inúmeras iniciativas que assinalaram o centenário da implantação da República, acontecimento marcante do século XX português.
Em Setúbal, por iniciativa da Câmara Municipal,  foi organizada, na biblioteca municipal, uma exposição (encerra dia 17/12/11) sobre o poeta popular sadino António Maria Eusébio, o Calafate. Nessa exposição, que assinala também o centenário da morte do nosso cantador, estão presentes folhetos originais (os quais eram vendidos pelo próprio, cuja receita constítuia o seu sustento) de poemas/décimas do mestre Calafate relativos aos acontecimentos da revolução republicana. Dessas décimas, publicamos aqui alguns motes:

Vai-te embora monarquia
vai p'rá Rússia ou p'ró Japão
tu aqui já não tens nada
o que resta é a nação.

Monarquia estás perdida
o teu poder acabou
quem te deitou a perder
foi alguém que te enganou.

Adeus velha monarquia
dá-me teu despedimento
fico  cá eu p'ra fazer
o meu agradecimento.

Adeus velho Portugal
já nunca mais te verei
não te lembres mais de mim
que eu já cá não voltarei.

Ó velho não tenhas medo
a ti ninguém te faz mal
que não esperavas ver
a República de Portugal.

Meu antigo senhorio
O seu partido morreu,
Quem mandava era o patrão
Agora governo eu.







domingo, 4 de dezembro de 2011

Alves Redol - 100 anos

Quadras
 
Se me vires de pau e manta,
não cuides que sou pastor:
sou da vila de Samora,
das Lezirias guardador.
(Samora Correia)

Não m'importo ser soldado,
contando que o batalhão
traga sempre na bandeira
bordado o teu coração.
(Benavente)

O meu amor disse à mãe
que me havia de deixar.
Agora deixo-o eu;
tome lá, vá-se gabar!
(Samora Correia)

Leonel Eusébio Coelho

Medos

Já passei por grandes
Dificuldades, mas
A maior parte delas
Nunca existiram.
Vivemos apavorados
e dominados por
Inúmeros medos
Os medos passados
Os presentes e os
Que ainda estão para
Vir.
"Não sou capaz de ganhar
Este desafio"
Não posso perder este
Desafio, mas se tal acontecer
Terei sempre aprendido alguma
Coisa se apesar da derrota
Me tiver empenhado seriamente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Manuel Luis de Jesus Beja

Quadras à liberdade

Minha mãe p'ra me embalar,
Falava de liberdade.
Sou feliz ao recordar!
Recordo cheio de saudade!

Liberdade é como a paz!
Me dizia, meu amor,
Ao ver a falta que faz,
É que lhe damos valor.

Faz tudo p'rá não perder!
Liberdade é tua espada!
Antes lutar e morrer,
Do que sofrer pela calada.

Também se luta a cantar,
Não se canta só às flores!
Cantaram para lutar,
Muitos plebeus e doutores!

Meu filho não vás esquecer,
Este nobre ensinamento!
E quando um dia eu morrer,
Lança as sementes ao vento!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Martinha Marques Fernandes Fatia

Criar

Criar é um sentido diferente
Que nos sai das entranhas
É ver beleza nas formas mais estranhas
De uma pedra fazer uma estrela cadente

É amar a natureza, a luz, o sol poente
Sentirmo-nos até alta montanha
Com o seu fascínio a sua força estranha
É saber descrever este sentir a toda a gente

É imaginar que temos imaginação
Para fazermos da vida
A nossa obra e criação

É pormos em tudo o que fazemos
Beleza carinho e verdade
Muito amor e emoção

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Canção de maltês
 
Bati à porta do monte
porque sou um deserdado.
E chovia nessa noite
como se o céu fosse um mar
entornando-se na terra.
- Quem abre a porta a desoras
morando num descampado?
E continha o rafeiro que ladrava,
na ponta do meu cajado.
Mas veio abri-la o lavrador
com a espingarda na mão,
e pôs um olhar altivo
tão no fundo dos meus olhos
que as minhas primeiras falas
foram assim naturais:
- guarde a espingarda, senhor,
sou um homem sem trabalho.
Fui secar-me à lareira.
E a filha do lavrador,
que era uma moça perfeita,
ficou a olhar de gosto
a minha manta rasgada
e o meu fato de maltês.
E com licença do pai,
estendeu-me um canto de pão
com azeitonas maduras.
Não aceitei como esmola;
antes roubar que pedir;
paguei com a melhor história
da minha vida sem rumo.
Foi uma paga de rei.
Prá filha do lavrador
tinha muito mais valia
a história que lhe contei
que o trigo do seu celeiro,
pois estava a olhar de gosto
a minha manta rasgada.
E quando o fogo na lareira
ia aos poucos esmorecendo
agradeci como é de uso;
despedi-me até mais ver
e fui dormir pró palheiro
que é palácio de maltês.
Despedi-me até mais ver
que a gente da minha raça
mal o Sol tenta nascer
ergue-se e parte pelo mundo
sem se lembrar de ninguém.
Assim me deitei ao canto
a esperar pela manhã.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Tejo que levas as águas


Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 



Lava-a de crimes espantos 

de roubos, fomes, terrores, 

lava a cidade de quantos 

do ódio fingem amores 



Leva nas águas as grades 

de aço e silêncio forjadas 

deixa soltar-se a verdade 

das bocas amordaçadas 



Lava bancos e empresas 

dos comedores de dinheiro 

que dos salários de tristeza 

arrecadam lucro inteiro 



Lava palácios vivendas 

casebres bairros da lata 

leva negócios e rendas 

que a uns farta e a outros mata 



Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar 



Lava avenidas de vícios 

vielas de amores venais 

lava albergues e hospícios 

cadeias e hospitais 



Afoga empenhos favores 

vãs glórias, ocas palmas 

leva o poder dos senhores 

que compram corpos e almas 



Leva nas águas as grades 
... 



Das camas de amor comprado 

desata abraços de lodo 

rostos corpos destroçados 

lava-os com sal e iodo

Tejo que levas as águas 

correndo de par em par 

lava a cidade de mágoas 

leva as mágoas para o mar. 






quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos

Tu e Eu Meu Amor 

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Manuel da Fonseca - 100 anos!

Dona Abastança «A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"
Para o actual governo - Passos Coelho/Portas - os trabalhadores e os pensionista são o INIMIGO!

Vitor Moinhos

As histórias da Marta

À volta de uma lareira
Marta com o seu encanto
Canta-nos à sua maneira
Histórias em forma de canto.

Coisas belas de pasmar
Umas alegres, outras não
De homens que morrem a lutar
Pela verdade e pela razão.

De homens que não regressam
Da batalha, contra a guerra,
Culatras que nos arremessam
À luta pela paz na terra.

Não te vás agora Marta
A noite ainda é uma criança,
És para nós como uma carta
Que nos traz um pouco de esperança.

Gosto de sentir a tua voz
Contando histórias de heróis
Que um dia morreram por nós
E que hoje são nossos faróis.







terça-feira, 23 de agosto de 2011

Constantino Menino

Sardinha assada

Quanto mais rasca é a tasca
Melhor me sabe a sardinha
Com um vinhão carrascão
Mais sinto o fado à noitinha
A minha guitarra agarra
Uma réstia do passado
A minha garganta canta
Com nostalgia este fado

Refrão

Triste quimera
Do fado d'antigamente
Ai quem me dera
Poder ouvir novamente
Fora de portas
Aquelas vozes d'outrora
Regressar a horas mortas
Sem as saudades d'agora

Quanto mais chora te adora
A tua guitarra amiga
Se tu a fazes vibrar e chorar
Num fadinho à moda antiga
Eu sinto assim em mim
Que quero voltar ao passado
Da bela sardinha assada
E às velhas noites do fado

domingo, 21 de agosto de 2011

Constantino Menino

Vem à taverna

Aqui
Onde o fado é mais fado
A canção não é saudade
Saudade não é tristeza
Aqui
O sentir de todos nós
Toma o corpo em qualquer voz
De alma bem portuguesa

REFRÃO

Vem à "taverna"
Vem cantar e ouvir cantar
Vem deixar que a saudade
Tome forma definida
Vem à "taverna"
Mas não venhas p'ra esquecer
Esquecer não é viver
É tornar mais curta a vida

Aqui
se és poeta ou cantador
Simplesmente sonhador
Tens um cantinho que é teu
Aqui
Cada um é um irmão
Com o mesmo coração
Onde o amor não morreu

domingo, 14 de agosto de 2011

Constantino Menino

És muito mais

Tenho o sol que me aquece
Tenho a noite que me abriga
Tenho a esperança qu'aparece
Na hora da despedida
Tenho a sorte de saber
O que vale para os mortais
A ternura dum poema
Mas tu vales muito mais

És muito mais
Que o fado que ontem escrevi
És muito mais
Que as saudades que senti
És muito mais
Que tudo o que recordei
Lágrimas que eu chorei
Podes crer foram por ti
És muito mais
És muito mais
Por isso me encontro aqui

Perguntaram-me em segredo
A razão de estar no fado
Só não o disse por medo
E porque havia jurado
Aos filhos da madrugada
Amigos de ocasião
Como eu ricos sem nada
Fugindo da solidão

Constantino Menino, nascido em Alcochete, em Abril de 1937, teve ao longo da sua vida uma actividade multifacetada - para além de poeta, foi um "carola" no movimento associativo, foi radialista, músico, árbitro de futebol e autarca na sua terra. Parte dos seus poemas foram e são cantados por fadistas. Os poemas inseridos no rimapontocom foram retirados do seu livro Fados do meu fado.

sábado, 13 de agosto de 2011

Constantino Menino

Onde pára

Onde me levas solidão
Onde paras pensamento
Onde moras ilusão
P'ra descansar um momento

Onde cantas pardalito
Dos meus tempos de criança
Onde pára o que medito
Onde vive a minha esp'rança

Meus irmãos de brincadeiras
Inimigos de guerras sãs
Amizade sem fronteiras
Nascida em cada manhã

Quando o mestre  nos dizia
Aprender para saber
Cuidado a vida é vazia
Para quem não souber ler



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mia Couto

POBRES DOS NOSSOS RICOS

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. 
 
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.

Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.


A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".

Aquilo que têm, não detêm. 
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. 
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. 
Vivem na obsessão de poderem ser roubados. 
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. 
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem ...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fim de Semana em Messejana

O último fim de semana - que culminou numa crise de gota, graças à lebre com feijão, ao bom chouriço. ao bom queijo de ovelha e ao bom vinho marca Lampião - passado na bela vila de Messejana, proporcionou-me a recolha de algumas imagens. Para além do prazer de estar com a família, proporcionou igualmente momentos de agradável convívio com alguns messejanenses - gente boa.
 Ruinas, o que resta do castelo de Messejana









sábado, 6 de agosto de 2011

Vinícius de Morais

A Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

domingo, 17 de julho de 2011

"Abandono"

As palavras de David Mourão Ferreira, a música de Alain Oulman, a voz de Amália. Contam-nos, cantam-nos tempos tenebrosos que não queremos de volta.

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.


sábado, 2 de julho de 2011

Recado a Lisboa

Lisboa, querida mãezinha
Com o teu xaile traçado
Recebe esta carta minha
Que te leva o meu recado

Que Deus te ajude Lisboa
A cumprir esta mensagem
De um português que está longe
E que anda sempre em viagem

Vai dizer adeus à Graça
Que é tão bela, que é tão boa
Vai por mim beijar a Estrela
E abraçar a Madragoa

E mesmo que esteja frio
E os barcos fiquem no rio
Parados sem navegar
Passa por mim no Rossio
E leva-lhe o meu olhar

Se for noite de São João
Lá pelas ruas de Alfama
Acendo o meu coração
No fogo da tua chama

Depois levo pela cidade
Num vaso de manjericos
Para matar a saudade
Desta saudade em que fico

Vai dizer adeus à Graça
Que é tão bela, que é tão boa
Vai por mim beijar a Estrela
E abraçar a Madragoa

E mesmo que esteja frio
E os barcos fiquem no rio
Parados sem navegar
Passa por mim no Rossio
E leva-lhe o meu olhar


sexta-feira, 1 de julho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

Manuel João Mansos

A Verdade

Eu sei que a verdade
é amarga e arde
nos corações perversos.
Mas que é sinceridade
cantada em versos
na boca dos poetas,
esses loucos possessos
da fonte da poesia,
profetas
do futuro que algum dia
virá à humanidade.
Eu sei.
Sei que a verdade
é amarga e arde.
Por isso canto e cantarei
apenas a verdade.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Manuel João Mansos

A clara razão

Tens de soltar um grito,
um grito de alegria,
nesta província deserta
de terras abandonadas:
-Acabem com as coutadas!

Pois se esta terra germina
azeite, vinho e trigo!
Deixarás de ser mendigo
para então trabalhares
e nunca mais emigrares.

Farás assim tua vontade.
Que eu vivo na ansiedade
de te ouvir alto gritar:
-É aqui que eu quero ficar,
não aceito a emigração,
esse desterro social!

Calares tão clara razão
não é o teu natural
nem de homem é calar.
Grita, pois, teu grito novo:
-A terra Há-de germinar
quando for terra do povo!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Manuel João Mansos

Depois do dever cumprido

Depois do dever cumprido,
Ó homem, não te apoquentes,
deixa vir o que vier.
Se és por alguém denegrido,
já que nasceste poeta,
nessa luta te aguentes,
-não é poeta quem quer:
só aquele que desperta
para a aurora da verdade
por tantos sempre encoberta
com dizeres de falsidade,
atrás de servil comédia,
onde muitos dos actores
a representam sem rédea
mas com freio de várias cores;
portanto, se és denegrido
aguenta as tuas dores.
Estás a teus irmãos unido
segue avante o teu fadário
e não te julgues solitário
depois do dever cumprido.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Manuel João Mansos

Um só ideal

Não quero credos a meias
mas sim o credo total:
corra só em nossas veias
sangue de um só ideal.

P'ra todo aquele que sente
na alma fraternidade,
ter um credo é simplesmente
vivê-lo em sinceridade.

E tu, que vives com peias,
qual é teu credo, afinal?
Não, não há credos a meias,
mas sim um credo total.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Manuel João Mansos

Nunca te dês por vencido

Por sofrer muito na vida,
nunca te dês por vencido:
luta de cabeça erguida
sem um ai, nem um gemido.

"Nem só de pão vive o homem",
ó meus queridos companheiros,
a não ser os tais, que comem
o pão dos trinta dinheiros.

Estes, sim, são desgraçados,
não o és tu, na tua dor;
comem o pão dos deserdados,
tu, pão de agruras em flor.

Pão de amargura comido
é mel n'alma deprimida,
Nunca te dês por vencido
por sofrer muito na vida.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Manuel João Mansos

O Homem que bem se regre

Quero cantar, ser alegre,
Já não me importa a tristeza.
O homem que bem se regre
faz do seu riso firmeza!
Quando o coração está triste
no rosto riso profundo,
que o riso é de quem resiste
aos mandões cá deste mundo.
E aquele que sabe honrar
a ideia que o norteia
ouve no peito cantar
sorrisos em maré-cheia;
nunca mais na dor se enleia
a pontos de andar perdido,
mostra leal inteireza:
vence-a, jamais é vencido,
pois faz do riso firmeza
o homem que bem se regre.
Já não me importa a tristeza,
quero cantar, ser alegre!
 Manuel João Mansos, é autor de Alentejo Maior, velhinha edição de autor de 1972, livro de poemas que tem o Alentejo e o seu Povo por tema. Nasceu em 1916 na Vidigueira.
Segundo Manuel da Fonseca, "Rosto virado ao quotidiano, M.J.M. acusa, sem tibiezas , a injustiça e canta, herança da mãe, a ternura pelo seu semelhante."

domingo, 12 de junho de 2011

Manuel João Mansos

O meu livro

Meu livro, leitor amigo,
é este cantar poemas
que são o porto de abrigo
de quem não suporta algemas.

Liberdade é dom de Deus
dado a todo o ser vivente:
sejam cristãos ou ateus
todos são livres, são gente.

Mas a contrários intuitos
há quem a todos obrigue;
são poucos, dominam muitos:
é só p'ra eles ser livres.

Quando o mal lança o assalto,
eu o enfrento lutando:
ao meu destino não falto,
amigos, cá vou cantando.

Quem pode ficar calado
se não vê na vida o norte?
Consentir olhos vendados
é estar morto antes da morte.

Fartos caminhos de pão
têm guardas à entrada;
tão injusta negação
não foi por Deus ordenada.

P'ra que se cumpra o que é justo
alta vontade comanda:
que se lute a todo o custo
por aquilo que Deus manda.

Quantos já foram vencidos
deixaram bons pergaminhos:
é da lei que os oprimidos
tentem romper seus caminhos.

Se cada qual se sentisse
herdeiro de exemplos maiores,
as searas não teriam
escalrachos de ditadores.

E quando o trigo nascer
do ruim escalracho salvo,
quem nega que há-de crescer
para todos o pão alvo?

Amigos, este é o meu
natural tom de cantar:
liberdade que Deus me deu
ninguém ma pode roubar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

João Farelo

Ecce Homo

Homem,
É aquele que se levanta
Em cada vez que cai.
E caindo outra vez,
Se levanta de novo.
E que depois de dar
Tudo o que tem,
Dá mais um pouco.
E quando exangue,
Exausto e quasi louco,
Num esforço supremo,
Ingente, enorme...
Como se fosse um povo.
se levanta
De novo.

sábado, 4 de junho de 2011

João Farelo

Conceitos

Tantas horas usadas
Que agora sei
Perdidas
Tanta verdade imposta
Que agora sei
Mentiras
Tanto custo a crescer
E tão incerta a vida
Tanta coisa a aprender
Tanta coisa esquecida
Tanto ódio rotulado
Tanta palavra ambígua
Tanta imagem truncada
Que mostramos aos outros
Tantas coisas no mundo
Para serem mudadas
Tantas horas perdidas
Que agora sei
Usadas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

João Farelo

Por aqui vou

Por aqui vou
Por ali não
Vou pela estrada
Que não tem chão
Por ali não
Por aqui vou
Sou peregrino
Sou como sou
E se quisesse
Ser como o vento
Ia às estrelas
Em pensamento
Ai como queria
Ter uma meta
Ai como eu queria
Não ter escolha
Ser assim como
Os outros são
Mas tenho a sina
Da decisão
Nos cruzamentos
Lá vem a lei
Por aqui vou
Por ali não

sábado, 28 de maio de 2011

João Farelo

Ouro de lei

Penso mil vezes
Aquilo que não digo.
Digo mais vezes
Aquilo que não penso.
Mas quando penso,
E digo,
Nunca sai
Coisa que valha,
Coisa que tenha
Senso.

Ai l... Se eu pensasse,
E não pensasse tanto l...
Ai l... Se eu dissesse
Só aquilo que sei,
Seriam prata
Os versos que hoje canto
Seriam de ouro
Os versos que calei.

Regresso

Volto hoje ao rima depois de alguns dias de ausência por motivos de viagem. Viagem essa que decorreu na perfeição. Então, saúdo todos os visitantes deste espaço que terão a partir de agora coisas novas.

terça-feira, 17 de maio de 2011

João Farelo

Esperança

Lá longe
Muito longe...
Onde começa tudo
Há uma esperança
Que me espera;
Um mar
Finalmente chão;
Uma praia
Livre de escolhos;
Uma mulher que não se cansa
E que sempre espera por mim;
Ou a última página,
A das soluções;
Ou a errata da minha vida;
Ou outro raio de outra coisa
Que não sei o que é,
Porque não a tenho... ainda,
Mas... quem sabe?!...
Lá longe ou mais além...


O senhor João Farelo, prestigiado comerciante da baixa de Setúbal, nascido nesta cidade em 1943, é proprietário e gerente  dum estabelecimento de sementes, rações e animais e acessórios a estes associados, conhecida por Casa Farelo - esta é de facto a genuína Casa Farelo fundada há já largas dezenas de anos. É autor do livro Amanhã será o hoje, onde dá a conhecer poemas de beleza singular, constituindo cada um deles reflexões  imbuídas de profundidade e seriedade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

João Farelo

Da minha varanda

O rio é pouco mais azul que o céu,
A lamber a cidade enorme e quieta,
As nuvens são castelos ambulantes
Em busca da distante e ignota meta,
Ao longe, o infinito é só um traço,
Por trás da estranha Tróia de cimento,
Ruas de asfalto, torres de vidro e aço,
Só o mar é o mesmo, imenso e lento,
Ao lado vê-se a serra a emoldurar
Este quadro - cidade - entardecer,
E os guindastes do cais parecem armas
Defendendo esta paz de enternecer;
Vê-se assim a cidade, de onde vivo,
Com olhos de poeta sonhador,
Tudo é beleza aos olhos de quem sonha,
Até o grito é canto, até o negro é cor.

domingo, 15 de maio de 2011

"uma porta para o alentejo"


Os últimos poemas publicados neste sitio, da autoria de Eduardo Olímpio, poeta, escritor, jornalista, alentejano - um apaixonado do seu Alentejo - foram retirados do livro UMA PORTA PARA O ALENTEJO, editado pela Associação de Municípios do Distrito de Beja. Neste livro, com texto de Eduardo Olímpio, fotografias de Inácio Ludgero (são do livro as fotos que ilustram as transcrições que faço) e arranjo gráfico de António Martins, perpassa todo o amor pelo Alentejo, as suas gentes, as suas paisagens. Fotos a preto e branco sublimes e um texto, todo ele um poema impressivo - "amigo/amiga/vais entrar connosco no mais belo país do mundo (...) deste chão que só não invento porque existe com o nome lindo de alentejo."

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Eduardo Olímpio

vamos amigos jogar a bilharda
vamos rapazes que a noite não tarda
já vem ti romão com o burro da água
pingando plo chão invernos de mágoa
já vem margarida de infusa ao quadril
e os moços espreitando-a aos cem e aos mil

vamos amigos jogar a bilharda
vamos amigos que o tempo já tarda
mariano loução chegou com o peixe
já tocou o búzio não há quem o deixe
são a mim a mim as mulheres com tarros
e loução nas calmas fumando cigarros

ti chica bailoa com cento e dois anos
penteia e assoa trinetos maganos
vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a noite não tarda
não tarda a chegar com dores nos rins
com olhos de ver só coisas ruins

com mãos a tremer catarro na voz
o mundo a viver e a gente tão sós

vamos amigos jogar a bilharda
é vamos é vamos que a morte não tarda

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eduardo Olímpio

se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e ao lado do coração
leva a rosa da justiça
e o teu filho pela mão

se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o teu braço liberto
para abraçar teu irmão
esse irmão que está tão perto
do teu aperto de mão
e que tão longe amanhece
nos campos da solidão

se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva a alegria de seres
irmão de quem vai parir
uma seara de trigo
uma charneca a florir
um rebanho e um abrigo
e um amanhã que há-de vir
como se fosse outro amigo
dentro do sol a sorrir

se fores ao alentejo
não leves vinho nem pão
leva o coração aberto
e o teu filho pela mão

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Eduardo Olímpio

eram campos e montados
nos olhos de antigamente
e a estrada furando o tempo
pondo o passado na frente

eram velhos às empenas
do monte espreitando o sol
e eu de nove desdobrando
os seus nomes no meu rol

era alvalade era ermidas
e as moças que eu namorei
(oh, canos das caçadeiras
dos pais que não consultei!)

era um regalo um regaço
- que me embalava na estrada
meu Alentejo de tanto
com tantos a não ter nada

eram campos e montados
um assombro de arvoredos
e os olhos ressuscitados
do pasmo de não ter medos

e plos campos campos fora
meus olhos de alentejano
brilhavam mais do que a aurora

brilhavam mais do que a aurora
meus olhos de antigamente

eram campos campos fora
pondo o passado na frente

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Eduardo Olímpio

fiz um contrato com o vento
de não me deixar prender
nem por oiros nem por falas
nem por balas de morrer

fiz um contrato com o vento
que hei-de cumprir por inteiro
dizer pão e dizer povo
desde janeiro a janeiro

fiz um contrato com o vento
sobre as arribas da serra
de só apertar a mão
a quem disser não à guerra

fiz um contrato com o vento
que o vento não sabe ler
mas entende deste mundo
mais que os livros de saber

fiz um contrato com o vento
entre estevas e pinhais
posso cantar toda a noite
que ninguém me prende mais

ninguém me amarra a canção
na liberdade que invento
que o vento é meu aliado
e ninguém amarra o vento.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Eduardo Olímpio

ainda eu era pequenino
já minha mãe me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.

e eu pegava na sacola
ia prós campos cavar:
os outros iam prá escola
eu já ia trabalhar.

passei as passas da vida,
fui mourejando e assim
soube que e vida é subida
que custa a chegar ao fim.

mas que teima quem porfia
sempre adrega o que sonhou:
e hoje em dia em cada dia
já sei o homem que sou.

já sei que a terra é a razão
dos que trabalham a terra:
e quem à razão diz não
não quer a paz quer a guerra.

e era em paz que a minha mãe
tantas vezes me dizia:
tu que trabalhas a terra
a terra terás um dia.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

1º.de Maio - Dia do Trabalhador

1º. MAIO
Há Maio em cada rosto
em cada olhar
que passa pelo asfalto da Avenida
Há Maio em cada braço
que se ergue
há Maio em cada corpo em cada vida
Há Maio em cada voz
que se levanta
há Maio em cada punho que se estende
há Maio em cada passo
que se anda
há Maio em cada cravo que se vende
Há Maio em cada verso
que se canta
há Maio em cada uma das canções
há Maio que se sente
e contagia
no sorriso feliz das multidões
Há Maio nas bandeiras
que flutuam
e mancham de vermelho
o céu de anil
Há Maio de certeza
em cada peito
que sabe respirar o ar de Abril
Mas há Maio sobretudo
no poema
que se escreve sem ler o dicionário
porque Maio há-de ser
mais do que um grito
porque Maio é ainda necessário
Canto Maio e se canto
logo existo
que o meu canto de Maio é solidário
com o canto que escuto
e em que medito
e que sai da boca do operário
(Fernando Peixoto)

Carlos Paredes, o mestre da guitarra portuguesa

quinta-feira, 28 de abril de 2011

IV Jogos Florais de Setúbal 2011

Os IV Jogos Florais de Setúbal 2011, de acordo com o Regulamento, compreendem trabalhos inéditos: Quadra - tema e rima livres; Soneto - tema livre; Poema - de construção e tema livres.

O prazo para a entrega dos trabalhos concorrentes é 31 de Maio de 2011 (data de carimbo dos correios).

Para obter o Regulamento e quaisquer informações, contactar: NPS - Praceta de Macau, 6 1º esq. 2900-079 Setúbal. Ou ainda npoesiasetubal@hotmail.com

sexta-feira, 22 de abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Jorge Marques

Quando a Boavista Canta

Nosso Bairro veio p'rá rua
alegrar a terr'inteira
vejam lá que o Sol e a Lua
vejam lá que o Sol e a Lua
entraram na brincadeira

E a vibrar na noss' sp'rança
vai o povo tão contente
a sonhar como criança
a sonhar como criança
a brincar alegremente

Boavista
Boavista
não há ninguém que resista
ao teu jeito d'encantar
Boavista
Boavista
nasceste p'ra ser artista
bairro lindo e popular
de laranjinha na mão
vai feliz a tradição
ao sabor de lindas trovas
Boavista
Boavista
não há ninguém que resista
quando passa Vendas Novas

Bairro de progresso em flor
no altar de cada dia
onde mil beijos de amor
onde mil beijos de amor
são trabalho e alegria

Trigo pão em cada peito
'spiga d'oiro se levanta
fic'ó mundo mais perfeito
fic'ó mundo mais perfeito
quando a Boavista canta.

Os versos de António Cigarra Pegas, João Marrafa e Jorge Marques foram musicados pelo compositor (e também poeta) João Marrafa, foram retirados da brochura Melodias de João Marrafa, que foram apresentadas no 1º. Encontro de Amigos de Alcácer, em Maio de 1992.

terça-feira, 19 de abril de 2011

António Cigarra Pêgas

Calça vincada

Calça vincada
bem apertada
p'ra bem par'cer,
moda d'agora
sempre na hora
par'á mulher!...

And'há muito em Portugal,
esta moda feminina,
que faz da mulher actual
mais forte, mais masculina...

As moças sem dar ouvidos,
passaram a vestir calças,
pondo de parte os vestidos
e camisinhas com alças...

Calça vincada
(...)

Hoje uma calça bem feita,
e muito justinha à perna,
é a moda bem eleita
por qualquer moça moderna.

Uma blusa à "sporte",
com manga de pouca roda,
tudo feito com bom corte
eis o luxo, eis a moda!...

Calça vincada
(...)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

João Marrafa

Minha terra pequenina, airosa e bela.
Debruçada com doçura sobre o Sado,
Onde o casario branco se espelha.
Sob a luz do Sol doirado.

Gente humilde, conselheira, terna e boa,
Cheia de fé, de amor e de verdade,
É valor de quem trabalha quem semeia
No calor da liberdade!

Oh minha terra, meu tesouro de saudade,
Oh minha vida que em ti me viu nascer,
Oh terra amiga, por quem sinto esta amizade,
Na humildade, do teu viver.

Como a seara, que nascida nos dá pão.
Trigo que é oiro e riqueza da pobreza.
Contigo vivo e partilho a gratidão
D'um amor profundo - que é beleza.

Lá no cimo o teu imponente castelo
- Vigilante e glorioso do passado!
É mais airoso, mais fascinante e belo,
Quando o Sol morre a seu lado.

Tuas casinhas da cor do branco véu,
Cercadas de pinheirais de verde manto,
Casam com o terno Sado e o azul do céu,
Um quadro puro - de encanto!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Jorge Marques

Fui ao jardim do amor
P'ra colher 'ma linda flor
Qu'enfeitasse a minha vida.
Lá perdi o meu olhar
Na beleza d'encantar
De tanta rosa florida

Eram rosas amarelas
Mimosas, frescas e belas
A sorrir em verde manto...
Eram rosas encarnadas
Rosas brancas perfumadas
Um quadro puro de encanto.

Rosa Maria
Meu amor, minh'a alegria
Meu cheirinho a primavera
Rosa Maria
Quem me dera ter-t'um dia
Ter-t'um dia quem me dera.
Assim formosa
Maria meu coração
Tu és a rosa
Princesa desta paixão.

Hoje lembro com saudade
O jardim, aquela tarde
Em que as rosas eram mil
Que loucura, que prazer
Cheio de amor a qu'rer colher
Rosas de Maio ou de Abril.

E o tempo assim passou
E o peito preso ficou
Ao encanto sonhador
De ficar apaixonado
Por esse amor encantado
Linda rosa , meu amor.

Jorge Marques

segunda-feira, 11 de abril de 2011

António Cigarra Pegas

Rosa Feia

Rosa feia rapariga
Quis à força namorar-me
Agora quer lhe diga
Que estou disposto a casar-me.

Mas a mulher é tão feia
Que eu não caso, fico só.
Antes prefiro a cadeia
Que com ela dar o nó.

Oh Rosa, Oh Rosa
Não teimes comigo
Tu não és formosa
Não caso contigo.

Oh Rosa, Oh Rosa
Não sejas assim
Não sejas teimosa
Não penses em mim.

Rosa chorando "faz cena"
Por ver eu não lhe ligar,
eu embora tenha pena
A Rosa não posso amar.

Mas a Rosa sempre teima
Mesmo sem eu gostar dela,
Mas é tempo que ela queima
Pois eu não caso com ela.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quadras

No domínio da Quadra, nos VI Jogos Florais da AURPICAS, 1991, Alcácer do Sal, foram premiadas as seguintes:

1º. prémio

Não faz pecado quem sonha
Com o amor e a paz na terra
Faz pecado e é vergonha
O Homem sonhar a guerra.

Luzia Carvalho, de Alcácer do Sal

2º.prémio

Não faz pecado quem sonha
Pois só pretende, afinal,
Alhear-se da vergonha
Do que é o mundo real.

João Baptista Coelho, Tires, Parede

3º.prémio

Moira encantada, nua,
Tão linda te vi, cegonha!
No castelo, à luz da lua,
Não faz pecado quem sonha.

Augusto Mota Reis Arês, Alcácer do Sal

Menções honrosas

Ceifeira d'olhar tristonho
De face trigueira e calma
Tu nunca ceifes o sonho
Que cresce na tua alma.

Helena Luísa Miranda Coentro, Miratejo, Almada

Não faz pecado quem sonha
Nem o sentido é culpado
Nem o sonhar é vergonha
Quem sonha não faz pecado.

Virgílio Silvestre, Sines

Quem sonha não faz pecado
E o meu sonho já nasceu
Sonho lindo, encantado
Que em meu ventre aconteceu.

Luzia Carvalho, Alcácer do Sal

Não faz pecado quem sonha
E inocente o menino
Enganado em pequenino
Sonha que o trouxe a cegonha.

Eduardo Pires Máximino, Alcácer do Sal

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Helena Luisa Miranda Coentro

Alcácer tem na cegonha
Um testemunho a dizer:
Não faz pecado quem sonha
Um castelo p'ra viver.

Dos versos faço oração
Com versos ponho no Sado
Os saveiros do passado
Abrindo sulcos de pão.
Planto no rude chão
Arrozais que o homem sonha
Pois eu não sinto vergonha
De ter asas nos meus braços.
Alentejo tem nos espaços
Alcácer tem na cegonha.

Nos versos a musa espreita
Ao povo bom e irmão,
A cortiça, a solidão,
Os caminhos de giesta.
Alcácer com ar de festa
Eu invento com prazer
E não consigo deter
O sonho da terra-mãe
Onde Pedro Nunes tem
UM TESTEMUNHO A DIZER.

No meu poema singelo
Canto a charneca encantada
A força de uma tourada
As encostas do castelo.
O Alentejo tão belo
A deixar que o homem ponha
Na natureza tristonha
A magia dos sobreiros.
Com a fartura nos celeiros
NÃO FAZ PECADO QUEM SONHA.

Canto os trigais, o sapal,
A terra sedenta de água,
Florbela e sua mágoa,
Eu canto Alcácer do Sal.
A sombra do chaparral
Na tarde mansa a descer
No poema a descrever
Alcácer boa e risonha
Que até oferece à cegonha
UM CASTELO P'RA VIVER.

Helena Coentro, de Miratejo, Almada, com estas décimas obteve o 1º. prémio dos IV Jogos Florais da AURPICAS, Alcácer do Sal, em 1991

sábado, 2 de abril de 2011

Adriana da Cruz Guimarães

"Sonho!"

Sonho de luz, de forte claridade
Sonho de amor, de fé e de beleza
Sonho feito das horas de'incerteza
Quisera ver-te agora, realidade!

Fosses não fantasia, mas verdade...
A minha aspiração, feita alegria
Depois cantar, cantar de noite e dia
Sem um momento vão d'ansiedade!...

Este sonho - dirás - não é real
Impossível viver num mundo assim
Sem pecar, ou sentir certa vergonha...

Engano, era bem simples afinal
Se tu tivesses afeição por mim...
Mas, eu sei; "não faz pecado quem sonha"...

Com este soneto, Adriana Guimarães obteve o primeiro prémio dos IV Jogos Florais da AURPICAS, 1991, Alcácer do Sal.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mário Augusto Freitas Vale Rego

Tento ver nas diferenças, as razões;
Tento dessas razões vir a saber;
Sei verdades da vida só por ver,
Só não vejo razão para ilusões.

Entrechocam-se mundos de emoções,
Relampejantes, de estarrecer;
Que na ventura ou tanto sofrer
São destinos que marcam corações.

Pobres nós, animais que todos somos,
Sempre esperando p'ra nós mundos mais belos
Deixando outros p'ra trás bem mais medonhos.

Se sonhamos, a outros mundos fomos
Que do nosso são mundos paralelos,
Onde vão inocentemente os sonhos.

O Mário Rego é de Aradas, Aveiro. com este soneto obteve o 3º. lugar nos IV Jogos Florais da AURPICAS (Alcácer do Sal), no ano de 1991

quarta-feira, 30 de março de 2011

Manuel Coelho

A noite do atraso

Numa longa noite de grande trovoada,
onde o escuro era opaco e imponente,
em escassos segundos se via somente,
um caminho, uma viela, uma estrada.

Lá quando a via era vista, visionada,
por um risco breve, efémero e tangente,
que dava esperança, enfim é gente,
de longe se via uma estrela iluminada.

Mas pura e enganosa essa falsa ilusão,
essa luz que nos abandonava e fugia
mais, anunciando sequer causas adiadas.

Interminável e terrível noite de escuridão,
que só o atraso e a crendice favorecia;
cinco ilustres não baniram quatro décadas

segunda-feira, 28 de março de 2011

Manuel Coelho

O Povo e a Reza

Todos os povos rezam e oram
devido às suas faltas e carência,
para atingirem a conveniência,
a todos os deuses imploram.

Os dirigentes também exploram.
A miséria, atraso e ignorância,
ficando para si com a abundância,
alguns até no estrangeiro moram.

Eles são sempre espectadores,
não se misturando com os crentes
estes são e serão sempre os actores.

Tiram partido de antigas sementes,
brincando com a fé dos amadores;
pisando sempre e só os inocentes.

domingo, 27 de março de 2011

Manuel Coelho

A nossa evolução

Os outros primatas não evoluíram,
porque não deixaram documentos,
nem legaram aos outros elementos
e os conhecimentos não transmitiram.

Outros, desde os Sumérios, essa falta sentiram,
por isso deixaram escritos e ensinamentos,
os mais sábios nos legaram pensamentos.
Os homens na longa caminhada prosseguiram.

O livro é sempre fonte de inspiração,
seja qual for o motivo, nos serve de lição
mesmo que não se goste devemos respeitar.

O trabalho que causou toda a procura,
recordemos, toda a sociedade tem censura;
Mas o autor, as barreiras deve contornar.

sábado, 26 de março de 2011

Manuel Coelho

Trabalhador

O rude braço que produz a mais valia
que tudo gera anima e transforma,
desde a rocha aos elementos dá forma,
as medalhas que recebe são aleivosias.

A recompensa é má e sempre tardia,
sem nome é desprezado como é norma,
empresas fantasmas lhe negam a reforma,
sem segurança e, contratos de fantasia.

Para lucros desenfreados e abusivo
não contam idades credos ou cores,
para esses amos abutres, todos servem.

Na Europa não há países comparativos,
aqui as leis do trabalho são as piores,
Mais, ano após ano mais se assumem.

Trovas e farpas é a brochura editada em 1999 pelo departamento de acção sócio-cultural/divisão de bibliotecas, da Câmara Municipal da Moita, com poemas de autoria de Manuel Coelho. A brochura é omissa em elementos identificadores do autor.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Manuel Coelho

Memórias

Trago tantas lembranças de pequenino,
lembranças essas, que me torturam
elas não morrem nem se procuram,
ficaram bem gravadas, desde menino.

Vi casas sem sorte pelo mau destino,
viúvas de vivos loucas que se mataram,
gente que trabalhando se endividaram
povo escravo, humilde com dor e desatino.

Povo pobre e triste, do grande império,
para onde só iam políticos e desterrados
os senhores de bem, da monástica gente.

Povo de memória curta e sem critério
que ainda fala de heróis enterrados,
tudo isto na minha memória está presente.

quinta-feira, 24 de março de 2011

António da Mota

Bendito Sol

Bendito o Sol que germina
a semente que floresce,
que toda a Terra ilumina,
aconchega e aquece...

Se o homem se espelhasse
nesta lição da natureza
e somente praticasse
actos puros, de nobreza:

Todos os povos irmanados
em paz e cooperação...
todos os continentes integrados
pela força... pela fé... pela união

Talvez fosse possível a vida
sem miséria, sem doença...
poderia a fome ser vencida
pelo trabalho e persistência.

Deus não tem nacionalidade
a terra dele é o nosso"interior"
o seu lema é a verdade,
a fraternidade e o amor...

"Vinho Tinto"

quinta-feira, 17 de março de 2011

Atónio da Mota

Suor do rosto

Trabalho feito com gosto
tem uma outra medida:
até o suor do rosto
outro gosto põe na vida!

"Gosto"

Quadra popular

Meu refúgio e meu enlevo
meu pão e meu agasalho
é o trabalho, a quem devo
quanto tenho e quanto valho!

"Menina e moça"

Quadra

Ao trabalho dou a vida
mas quando chegar meu fim
é a vida agradecida
que fica a falar de mim!

"Marialva"

quarta-feira, 16 de março de 2011

António da Mota

Mineiro

Está sepultado em vida
a muitos metros de fundo,
na amarga e dura lida
sempre ausente do mundo.

É penoso o trabalho
da sua honesta profissão
com picareta e malho
trabalhando na escuridão.

Ele extrai Prata e Ouro
e ganha pouco dinheiro!...
sem riqueza nem tesouro
é sempre o pobre mineiro.

"Lucena"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Solidadriedade com os japonoses

Aos visitantes do rimapontocom residentes no Japão (que presumo sejam portugueses) quero aqui prestar-lhes a minha solidariedade, e expressar o meu desejo de que nada lhe tenha acontecido, para além do susto e ansiedade provocados pelo violento terramoto ocorrido na passada semana. E estou torcendo para que as centrais nucleares não venham a provocar mais tragédia.

António da Mota

Abelha

Atarefada à procura
do mel e cera p'ro sustento,
e com a vida mal segura
pela chuva e pelo vento.

O seu trabalho é enorme
na colmeia onde mora,
ninguém sabe se ela dorme
ou se trabalha toda a hora.

Depois do mel e cera feito,
o homem vai lá directo
e chama a seu proveito
o trabalho do insecto.

"Lucena"

sexta-feira, 11 de março de 2011

António da Mota

Quadras

O trabalho não fatiga
quem cresceu a trabalhar
só fatiga gente amiga
de viver a mandriar

"Jasão João"

Ó irmão trabalhador
dos povos todos padrão
lutas por vida melhor
tendo por arma a razão

"Zé Trabuca"

Se o trabalho dá saúde
e a preguiça é má pra gente
haja quem as coisas mude
trabalhe quem for doente

"Zé Langão"

Tu, oh homem que trabalhas,
os calos que nas mãos trazes
são as únicas medalhas
que ganhas, pelo que fazes!...

"Alguém"

quinta-feira, 10 de março de 2011

António da Mota

Quadras

Quando o suor cai do rosto
mas se canta de alegria,
há no trabalho outro gosto
e o que se faz tem valia.

"Catavento"

As mãos calosas do malho,
da caneta, da enxada,
são indício de trabalho
onde a vida é devorada.

"Bagatela"

Não nasce o pão da semente
nem a vida nada traz
se o trabalho, em nossa mente,
não tiver por alvo a paz.

"Alvorada"

Quem trabalha toda a vida
e não ganha o suficiente
tem uma vida entristecida
nunca pode estar contente

"Desinfeliz"

Definir o trabalhar
- já o ouvi à razão -
é, por vezes, mendigar
o ter direito a ter pão.

"Mar-Mundo"

quarta-feira, 9 de março de 2011

António da Mota

Quadras

Se Deus é bom e não mente
e ninguém lhe pede em vão,
porquê - meu Deus - tanta gente
a trabalhar sem ver pão?

"zé Ninguém"

Há, dentro do nosso ser,
uma lição modelar:
o coração a bater,
toda a vida a trabalhar.

"Migalha"

Trabalhar é investir
nossa valia e suor
na construção do porvir,
visando um mundo melhor.

"José de Albuquerque"

Muitos homens são formigas:
trabalham de noite e dia.
Outros, preferem cantigas,
discursos, demagogia.

"Tridente"

Trabalhar, se der prazer,
dá-nos a vida também,
pois, no fundo, é aprender
a ser homem, ser alguém.

"Triângulo"

Se alguém prefere a preguiça
pois trabalhar cansa e sua,
não é homem, é cortiça;
não nada, ou vive, flutua.

"Ventania"

O autor, António da Mota, utiliza para cada uma das quadras um pseudónimo diferente. O conjunto dos poemas de A.da M. a que tive acesso, numa biblioteca, estão dactilografados em folhas A4, algumas são fotocópia, cujas folhas foram empastadas e coladas, segundo percebo, como forma de não se separarem ou perderem-se. Dados do autor, desconheço em absoluto. Nalgumas dessas folhas há em cabeçalho VIII Jogos Forais Nacionais do Conselho da Moita". É possível que este cabeçalho explique a utilização de pseudónimos...

segunda-feira, 7 de março de 2011



A Né Ladeiras tem uma voz fabulosa - que pena não "aparecer" mais - e o tema do Fausto é igualmente fabuloso

domingo, 6 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

Francisco Miguel

Roçamos pelas estrelas

É amor fino perfume
água corrente a cantar
doce calor de algum lume
que não se sente queimar.

Meu amor, subi ao céu
no mais veloz avião
o céu azul será meu
porque é o céu da paixão.

Roçamos pelas estrelas
sempre com mais seguranças
é nessa luz que vem delas
que ponho minhas esperanças.

O sonho é parte de vida
porque a vida está no sonho
quando o amor é tamanho
é um amor sem medida.

Meu braço vai-te amparar
meu amor não cairás
sempre te vai procurar
quem por amor tudo faz.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Francisco Miguel

A vontade é motor

A vontade quando é forte
nada há que lhe resista
à vontade só a morte
Se é vontade que persista.

A vontade é decisão
tudo pode conseguir
até a própria revolução
que é destruir-construir.

A vontade corajosa
a vida pode mudar
é uma vaga alterosa
que tudo pode afogar.

Do povo a forte vontade
se se liga à decisão
é a própria revolução
e com ela a liberdade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Francisco Miguel

Viva a reforma agrária

Nossa força é a razão
a nossa luz vai à frente
somos o rio da Revolução
da força da nossa mão
desta mão que é resistente.

A terra da nossa terra
deve estar em nossa mão
a justiça que isto encerra
é a paz e não a guerra
é a justa decisão.

Queremos mais instrução
a vida toda verdade
mais trabalho, paz e pão
nossa firme decisão
conquistar mais liberdade.

Com a terra em nossa mão
bem cultivada e regada
injustiça reparada
o país terá mais pão.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Francisco Miguel

O andar da vida

Neste viver, nesta vida
sempre seguindo p'ra morte
é a vida mais sentida
ao chocar com o mais forte.

Neste viver a viver
uma vida desgraçada
o fazer é desfazer
a vida mais escravizada.

Mundo novo, mundo velho
vai o povo p'ro vermelho
e o mundo p'ra revolução.

Um povo que sabe história
que medita e que trabalha
sabe que tem a vitória
numa última batalha.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ana Valadas/Pedro Mestre

Francisco Miguel

Navio da liberdade

Meu navio da liberdade
minha viagem de luz
vou a terra sem tufão
onde o navio me conduz.

Ó mar verde dos trigais
lindo prado, teu perfume
ó terra dos vendavais
de rosas da cor do lume.

Varre o vento o sentimento
nunca leva a saudade
não me sais do pensamento
meu navio da liberdade.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Francisco Miguel

Soltas

A vida tem um canal
onde passam sentimentos
desejos e pensamentos
que vão do bem para o mal.

Que diga, pois, quem trabalha
se a coisa assim pode ser
se se rompe uma muralha
apenas com simples querer.

Traz o Outono a tristeza
talvez mais do que o Inverno
mais nos persegue a frieza
vive-se aqui no inferno.

O chão coberto de folhas
tudo está muito mudado
Portugal é rico em folhas
quando o povo é "insultado".

Francisco Miguel Duarte é uma lenda da luta contra a tirania Salazarista. O jovem sapateiro  (ele, espirituosamente, dizia manipulador de calçado) de Baleizão, cedo na sua vida tomou partido pelos explorados e oprimidos. "pagou" cara a sua ousadia, pois acabou por passar longos anos nas prisões da PIDE. Foi um destacado quadro do PCP, o seu partido de sempre. Nascido em 1907, viria a falecer em 1988. Lutou na clandestinidade até ao 25 de Abril de 1974. Conheceu as prisões do Aljube, Caxias, Porto Peniche e o campo de concentração do Tarrafal. Preso várias vezes, sempre se evadiu, excepto numa dessas vezes. Participou nas duas mais audaciosas fugas que fizeram tremer o regime fascista, a fuga do forte de Peniche com mais nove outros presos entre os quais Álvaro Cunhal, e a fuga do forte de Caxias com outros sete presos usando para a fuga o automóvel blindado de Salazar.
Deixou-nos, para além do seu grande exemplo de cidadão, alguns livros, um dos quais o pequeno livro de poemas - Rosas Antigas - em que discorre sobre o amor e a vida, sobre a liberdade e a emancipação do ser humano.






sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Francisco Miguel

Joaninha Rosa

Minha Joaninha
pousaste na rosa
logo a mais bonita
logo a mais formosa.

Minha Joaninha
de cor amarela
tu fazes da rosa
a casa e janela.

Refrão

Joaninha rosa
rosa Joaninha
quem gosta de rosa
p'ra rosa caminha.

Minha Joaninha
de casca brilhante
não deixes a rosa
nem por um instante.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Hoje, vou divulgar umas piadas rimadas, onde se utilizam alguns falares alentejanos. Se o autor (ou autora) teve por objectivo "gozar" com os alentejanos, eu, alentejano que sou, "gramei" a valer esta forma jocosa de falar dos alentejanos!
Foram-me enviadas por correio eletrónico.

Atirê um limão rolando...
à tua porta parou...
depois fiquê pensando...
será co cabrão se cansou???

Subi acima duma árvori
para ver se te via,
como nã te vi,
desci-a

Ê vi-te no tê jardim,
andavas colhendo hortelã!
ê cá gosto de ti,
e tu, hãããã?

Assubi a um êcaliptre
com o tê retrato na mão
desencaliptrê-me lá em cima
malhê cos cornos no chão!!!

Perdi a minha caneta
lá prós lados da várzea
se lá fores e a vires,
trázea!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pela minha "paixão" pelo Fado, tinha que postar este vídeo. É imperdivel!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lenine Sobreiro

É preciso é urgente

É preciso é urgente
acabar com os tabus
e dizer a toda a gente
que afinal nascemos nus

É preciso é urgente
acabar com a maldade
e com o riso indecente
que me cheira a falsidade

É preciso é urgente
acabar com a maldita guerra
e dizer a toda a gente
nós queremos é paz na terra

É preciso é urgente
acabar com a hipocrisia
e dizer a toda a gente
queremos paz e alegria

É preciso é urgente
dizer a toda a gente
que a vida só tem sentido
quando a miséria acabar
e o pão for bem repartido

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lenine Sobreiro

Nunca é tarde

Nunca é tarde para dizer
que a guerra tem que acabar
temos tempo de morrer
ninguém nos deve matar

Nunca é tarde podem crer
"se o homem se põe a pensar"
nunca é tarde para aprender
nunca é tarde para amar

Nunca e tarde, é madrugada
é seiva a nascer do nada
criando paz e alegria

É amor é felicidade
O vento da liberdade
É sol sol ao romper do dia

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Lenine Sobreiro

Mensagem de Paz e Amor

É preciso dar as mãos
dar carinho dar amor
se afinal somos irmãos
para quê tanto rancor

É preciso é urgente
amor e fraternidade
e unir assim toda a gente
para bem da humanidade

E nessa união tão querida
seguir o mesmo caminho
e viver a nossa vida
com mais amor e carinho

Um apelo quero fazer
a toda a humanidade
acabem com a maldita guerra
nós queremos é Paz na terra
amor e fraternidade

domingo, 30 de janeiro de 2011

Lenine Sobreiro

Emigrante, meu irmão

Emigrante, meu irmão
eu trago no coração
o nosso país inteiro
trago a brisa, trago o mar
trago a saudade a cantar
baixinho dentro do peito

Trago poetas, escultores
músicos, operários, cantores
trago o presente, o passado
trago a força que me vem
da natureza a terra mãe
à qual vivo agarrado...

Trago o sol de Portugal
e o nosso torrão natal
envolto nesta mensagem
trago, enfim, a melodia
e a eterna poesia
que me dá força e coragem

sábado, 29 de janeiro de 2011

Aldrabas e batentes

Lenine Sobreiro

Sou assim e assim serei

Apesar de humilhado
apesar de ofendido
não me sinto derrotado
e muito menos vencido

A força da minha força
dá-me força e razão
por isso ninguém me força
a dizer sim, a dizer não

Embora condicionado
a certas forças brutais
eu sou como um condenado
que resisto e nada mais

Por tudo o que fica dito
resisto e resistirei
não me curvo nem abdico
sou assim e assim serei

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lenine Sobreiro

O Poeta é  universal

O poeta não tem barreiras
por isso é universal
a cor das suas bandeiras
é portanto natural

Que ninguém diga ao poeta
o que ele deve escrever
faz figura de pateta
talvez mesmo sem saber

O poeta não pode ser
carcereiro de si mesmo
por isso deve escrever
versos soltos e a esmo

E depois soltar ao vento
os poemas que escreveu
com a coragem e com talento
que a natureza lhe deu

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lenine Sobreiro

A Palavra Camarada

A palavra camarada
tem tanta profundidade
que eu não entendo por nada
que haja gente que não goste
da palavra camarada

Camarada é ter na mão
um pão para repartir
é ter força e ter razão
para nunca desistir

Camarada é defender
os pobres, os deserdados
é lutar sem se render
em prol dos explorados

Camarada é estar aqui
ao vivo sem vacilar
e depois sair daqui
com força para lutar

Camarada é acreditar
que a vida só tem sentido
quando a miséria acabar
e o pão for bem repartido

Aldrabas e batentes

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lenine Sobreiro

Nasce assim a poesia

Verso branco ou rimado
o que é preciso é escrever
aquilo que a gente sente
e que gosta de dizer

Eu sinto tanto prazer
e sinto tanta alegria
quando rimo sem querer
quando escrevo poesia

O verso branco aparece
duma forma tão normal
tal como desaparece
o que é muito natural

Nasce assim a poesia
livre como o próprio vento
formando uma sinfonia
que canta a todo o momento.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Lucília do Carmo: uma diva, nem sempre recordada como merece!

Recordo aqui a D. Lulícia do Carmo, uma das mais belas vozes do fado, de todos os tempos. É sublime a forma como pronúncia cada palavra!

Lenine Sobreiro

Ser cego

Os cegos não são aqueles
que por sua infelicidade
não vêem a claridade
nem tampouco a sombra deles

Cegos são os que não querem
encarar a realidade
e usam a falsidade
para, enfim, se esconderem

Cegos são os que não sentem
a injustiça social
em vez do bem, fazem mal
não falam verdade, mentem

Depois do que fica dito
não há mais nada a dizer
embora seja esquisito
cegos: "são os que não querem ver"

Lenine Sobreiro nasceu em 1934 na freguesia de Palhais, concelho do Barreiro. Cedo, aderiu à luta antifascista, tendo mesmo sido preso político. Para além de poeta, é também declamador, tendo percorrido o país, um pouco por todo o lado, divulgando a poesia.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lenine Sobreiro

Deixem-me ser criança

Não me matem à nascença
deixem-me rir e cantar
deixem-me ser criança
deixem-me afinal, brincar

Deixem-me ver o sol, o mar
sentir frio, sentir calor
deixem-me dormir, sonhar
viver a vida com amor

Deixem-me olhar a lua
as estrelas a cintilar
deixem-me andar na rua
deixem-me aprender a amar

Deixem-me colher rosas
flores lindas do jardim
tão bonitas, tão viçosas
deixem-me crescer, enfim...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

João Vaz Penetra

A Caça em Cabeção

Havia boas caçadas
Coelhos, lebres, perdizes
Rolas, pombos, codornizes
Mas foi em eras passadas.
"Espingardas" com provas dadas
Famosos atiradores
Caça à farta sem favores
Os coelhos quase "de graça"
Nesses tempos em que a caça
Era mais que os caçadores.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

João Vaz Penetra

Apelidos e Alcunhas (continuação)

Um Martins que foi pedreiro
O que havia d'arranjar
Deu-me a filha p'ra casar
E eu deixei de ser solteiro
Tinha um café no Ribeiro
Fomos amigos correctos
Debaixo dos mesmos tectos
Não se metia em sarilhos
Era o avô dos meus filhos
E o bisavô dos meus netos.

Terra de trabalhadores
Nas diversas profissões
Empregados e patrões
Dos serventes aos doutores
A todos presto louvores
Com o devido respeito
Mesmo sem força nem jeito
Quero abraçá-los a todos
Que tenham saúde a "rodos"
Por tudo o que têm feito.

Senhora da Madre-Deus
Peço-te um grande favor
Pede a Deus Nosso Senhor
Por estes amigos meus
E um Cordeiro que fala em Deus
Merece consideração
O Padre de Cabeção
Qu'encomenda os nossos mortos
Casa uns baptiza outros
Tem uma bela missão.

Peço p'ra ser desculpado
Se algum de vós ofendi
Com aquilo que escrevi
Não foi mal intencionado
Assim fica registado
Desta forma deslavada
P'ra que possa ser lembrada
E eu não tenho receios
Os nomes podem ser feios
Mas é tudo gente honrada.

Já corri a vila inteira
Andei "à cata" de gente
Com algum nome diferente
Lá na minha parenteira
E assim desta maneira
Não sei se fiz bem ou mal
Mas o meu espanto foi tal
Com os nomes que aqui estão
Eu cheguei à conclusão
Que acabei c'o pessoal.

Quero chamar a atenção
De quem estes versos ler
Eu limitei-me a escrever
E não fiz pontuação
Eu deixo à consideração
De todo e qualquer leitor
Poeta ou declamador
Que os diga como quiser
A forma como os disser
Não ofende o seu autor.

Fim!

Esta longa composição poética, em décimas, constitui uma crónica dos nomes, apelidos e alcunhas das gentes de Cabeção. Nela perpassa a ternura do autor pelas pessoas suas conterrâneas. Quantas destas alcunhas terão passado a apelido dos descendentes do alcunhado? Quantos destes apelidos terão resultado de uma graçola ocasional? O Alentejo é fértil nesta tradição - raramente numa aldeia escapará alguém a uma ou mais alcunhas. E, se recuarmos no tempo, era facílimo a alcunha passar a apelido "oficial", isto é, no Registo Civil, na Cédula Pessoal, no Bilhete de Identidade!
E que dizer das alcunhas "ofensivas", aquelas só usadas "nas costas" da pessoa alcunhada... Cito aqui um caso que conheci, de uma mulher que foi "baptizada" de Perna Cagada, a quem eu quando criança tratei dessa forma, acrescentando prima - Prima Perna Cagada! Claro que a resposta foi uma valente bofetada. Já que referi a minha experiência de infância, faço ainda uma confidência: No meu agregado familiar, na grande cidade, portanto, a dada altura, como não conhecíamos os nomes de alguns vizinhos, para, por algum motivo as nomearmos (só entre nós), resolvemos usar alcunhas: a Plástica, uma senhora que constantemente sacudia uma tolha de plástico; a Janeleira, senhora que passava horas seguidas à janela;  o Neco, porque era super-parecido com um personagem de telenovela muito popular na altura.
A propósito deste poema, pela sua importância, faço referência a uma obra muito interessante, o Tratado das Alcunhas Alentejanas, de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva, que constitui um inestimável contributo para o conhecimento deste tema. E também a História da Vida Privada em Portugal, obra em 4 volumes dirigida pelo Professor José Matoso, editada pelo Círculo de Leitores, que no primeiro volume trata com rigor a questão da atribuição do nome, apelidos e alcunhas, desde tempos remotos aos nossos dias, e como foi a evolução nas famílias, nas regiões, nos vários grupos sociais.